12 mil quilómetros e muitos euros de distância


As distâncias geográficas perseguem-me desde sempre e acredito que para o resto da vida. Neta e filha de migrantes (está na moda sem o ‘e’), sinto que pertenço a várias latitudes, físicas e emocionais. Nasci num sítio, cresci noutro e tenho a maioria dos meus mais que tudo a umas longas (longuíssimas) horas de avião.


Aos 5 anos senti, pela primeira vez, o que era estar longe de alguém. Experimentei, ainda que de uma forma subtil, o sabor da despedida. Não me lembro de malas, nem de arrumações, nada. O que me ficou na memória foi uma conversa em forma de metáfora – embora para mim, tivesse sido entendida como literal – no terraço da casa da minha tia Maria. E, foi nesse cenário que ouvi, pela primeira vez, a palavra PORTUGAL. O meu pai estava de partida para a aventura da emigração – que duraria 25 anos – e nós (a minha mãe, eu e a minha irmã) iríamos ter com ele, uns meses depois.

Por-tu-gal? Mas onde é que isso fica? – perguntei eu, do alto dos meus 5 anos, convencida que dominava o mapa mundi.
– Estás a ver aquelas duas estrelinhas muito juntas, ali no céu? – explicou o meu pai, apontando para cima – Uma delas é Argentina, e a outra, ao lado, é Portugal. Como vês, ficam ao lado uma da outra, por isso não tens de te preocupar!

E foi assim que o meu pai resolveu o problema da distância, naquele dia. Durante algum tempo, já em Portugal, eu rebatia as opiniões dos meus colegas de escola que me juravam que Portugal ficava ao lado de Espanha, na Europa. Para mim, eles estavam enganados.

Vinte e tal anos e umas aulinhas de geografia depois… a minha cabeça consegue identificar no globo que Portugal e Argentina estão a 12 mil quilómetros e muitos euros de distância. O engraçado é que, no meu coração, eles continuam juntinhos (e talvez para sempre), como aquelas duas estrelas, brilhantes e grudadas, do céu dos meus 5 anos de idade.


[Texto publicado na plataforma Capazes em 21.09.2015] 
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Texto en Español


Las distancias geográficas me persiguen desde siempre y creo que para el resto de la vida. Nieta e hija de inmigrantes, siento que pertenezco a varias latitudes, físicas y emocionales. Nací en un lugar, crecí en otro y tengo la mayor parte de mi gente a unas largas horas (muy largas) de avión.

Con 5 años de edad por primera vez, senti lo que era estar lejos de alguien. He experimentado, aunque de una manera sutil, el sabor de la despedida. No recuerdo armar las valijas, ni nada. Lo que me acuerdo es de la memoria de una charla en forma de metafora - aunque para mí la entendi como literal - en la terraza de la casa de mi tía María. Y fue en este escenario que he oído por primera vez, la palavra Portugal. Mi padre empezava la aventura de la emigración - que duraría 25 años - y nosotros (mi madre, mi hermana y yo) lo encontraríamos, un par de meses más tarde.

- Por-tu-gal? Pero dónde es? - Pregunté yo, con mis cinco años, convencida de que dominaba el mapa del mundo.

- ¿Ves esas dos estrelas juntitas, allá en el cielo? - Dijo mi padre, apuntando hacia arriba - Una de ellas es Argentina, y la outra, al lado, Portugal. Como podes ver, están justo al lado una de otra, por lo tanto no tenes que preocuparte!

Y así fue que mi padre solucionó el problema de la distancia en ese día. Despues de eso, ya en en Portugal, discuti las opiniones de mis compañeros que me decian que Portugal estaba al lado de España, en Europa. Para mí, estaban todos equivocados.


Veintitantos años y unas clases de geografía despues ... mi cabeza logra saber que Portugal y Argentina estan a 12 000 kilómetros y muchos euros de distancia. Lo curioso es que, en mi corazón, todavía están muy juntos (y tal vez para siempre), como esas dos estrellas, brillantes y pegadas, del cielo de mis 5 años de edad.

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