Quem não gosta de histórias?


Há tempos, tropecei num artigo chamado ‘The Science of the Story’ e, desde então, fiquei a matutar no efeito das histórias – ou estórias, se quisermos mergulhar numa distinção linguística controversa – nas nossas vidas. 

Sempre gostei de histórias. Fui daquelas crianças – velhas que gostava de ouvir a conversa dos adultos. Não que não adorasse brincar ou fazer as traquinices típicas de qualquer ser humano de palmo e meio, mas uma boa história captava a minha atenção, mesmo arriscando a não percepcionar a mensagem, na sua íntegra. Ouvia, concentrada, os relatos das vizinhas que se cruzavam com a minha mãe na rua, e contavam as peripécias do dia-a-dia ou a sua falta de sorte. Como vivíamos num 4º andar, passava muito tempo a olhar para as janelas dos outros prédios, tentando imaginar a história das famílias que lá viviam: - ‘Seriam parecidas com a minha?’. No fundo, talvez eu olhasse para aqueles quadradinhos dos prédios, ora iluminados, ora apagados, como vinhetas de um cartoon repleto de aventuras. Ainda hoje, sou um pouco assim… em locais públicos, rodeada de gente desconhecida, começo a vaguear por possibilidades de enredos: ‘qual será a história daquela pessoa? quem terá à sua espera quando sair daqui?’ 



Esta semana, a propósito do final de uma novela que seguíamos na televisão (eu assumo que sigo a novela; o homem cá de casa diz que só vê pelas paisagens), lembrei-me de que em miúda, gostava tanto de ver novelas, envolvia-me de tal maneira com as narrativas, que no último episódio do folhetim, subia, em mim, uma certa ansiedade… dando, por vezes, direito a umas quantas lágrimas de nostalgia: ‘Para onde irão, agora, as personagens? Não vou voltar a vê-las!’. E dos filmes, nem se fala! Além dos gostos «normais» do género infantil, as histórias dos adultos enchiam-me a alma, já em estádios precoces do desenvolvimento. Não é qualquer miúda que, aos 10 anos de idade, via e revia uma cassete gravada de «E tudo o que o vento levou» - o que poderia compreender, acerca de um clássico que muitos adultos não conseguem ver até ao fim? – 4 horas de elevada intensidade dramatúrgica. Quem me conhece bem, costuma dizer que adoro um bom drama, e, assim sendo, eu lá me deveria entender com a Scarlett O’Hara. Há, inclusivé, uma frase da cena final do filme que sempre me acompanhou (e talvez, inconscientemente, me tenha ajudado a sobreviver, umas quantas vezes): «After all, tomorrow is another day!».
 



Seja qualquer for o formato - livro, filme, novela, série, rádio, conversas na rua – sou fascinada por histórias. Quando me tocam genuinamente, tenho dificuldade em desligar-me delas. Preciso do meu tempo de digestão em relação a um filme e aquela frase ‘é só um filme!’ nem sempre faz sentido para mim. Só um filme? Mas um filme – dos bons, claro! – nunca pode ser um só… faz-nos viver tanta coisa! Faz-nos colocar no papel do outro, um exercício de empatia que no dia-a-dia relegamos para segundo plano porque estamos constantemente absorvidos pelo nosso EU-narcísico.


E é por tudo isto que as histórias podem ter um papel importante na nossa própria história. Porque todos os dias reescrevemos e reinventamos as cenas que compõem a peça da nossa existência. Afinal, quem não gosta de uma boa história?!



“(…) We know in our gut when we’re hearing a good story (…)”


Jeremy Adam Smith, 2016. In Greater God Publishing



















P.S – Vale a pena ler o artigo.


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Texto en Español

A quiénes le gustan las historias? 
Hace unos dias, me encontré con un artículo llamado "La ciencia de lahistoria" y, desde entonces, yo me quede pensando sobre el efecto de las historias en nuestras vidas.

Siempre me han gustado las historias. Yo era de esas niñas - que le gustaba escuchar las conversaciones de los adultos. No es que no me encantase jugar o hacer travesuras como cualquier ser humano chiquito, pero una buena historia sempre me llamó la atención, aún con el riesgo de no entender el mensaje en su totalidad. Escuchaba, concentrada, cuentos de las vecinas que se cruzaban con mi madre en la calle, y contaban las aventuras de su día a día o su mala suerte. Como vivimos en un 4º piso, pasaba mucho tiempo mirando las ventanas de otros edificios, tratando de imaginar la historia de las familias que vivían allí: - "sería similar a la mía? '. En el fondo, buscaba en esos pequeños cuadrados de los edificios, las viñetas de una historieta llena de aventuras. Incluso hoy en día, soy un poco así ... en lugares públicos, rodeada de extraños, comienzo a pensar posibles tramas: "¿cuál sera la historia de esa persona? quien la estará esperando cuando salga de acá? '

Esta semana, y porque estaba terminando una novela que hemos seguido en la televisión (yo reconozco que veo la novela, el hombre de la casa dice que ve solamente los paisajes), recordé que en niña, era muy aficionada por las novelas, me envolucraba con la narrativa y en el último episodio de la telenovela, empezava una cierta ansiedad ... a veces daba unas lagrimas la nostalgia '¿para dónde van los personajes? No voy a volver a verlos! '. Y las películas, ni hablar! Además del gusto "normal" por peliculas y dibujitos de niños, las historias de los adultos llenaban mi alma, desde muy temprano. No es cualquier chica que, a los 10 años de edad, veia varias veces la cinta grabada de la pelicula "Y todo el viento llevó" - que podría yo comprender, sobre un clásico que muchos adultos no logran ver hasta el final? - 4 horas de alta intensidad dramatica. Los que me conocen bien, dicen que a mi me gusta un drama, y, por lo tanto, me debería entender con Scarlett O'Hara. Hay incluso una frase de la escena final de la película que siempre me acompaña (y tal vez inconscientemente, me ha ayudado a sobrevivir, un par de veces): "Después de todo, mañana será otro día!".

Cualquier que sea el formato - libro, película, novela, serie, radio, conversaciones en la calle - me fascinan las historias. Cuando me tocan genuinamente, tengo problemas en desconectarme. Necesito mi tiempo de digestión en relación a una película y la frase 'es sólo una película!’ no tiene mucho sentido para mí. Sólo una película? Pero una película – de las buenas, por supuesto - nunca puede ser sólo una pelicula ... nos hace vivir tanto! Nos toca ponernos en el papel del otro.del otro,  un ejercicio empático que en el dia a dia lo dejamos para segundo plano porque estamos constantemente absorbidos por nuestro YO- narcísico.

Y es por todo esto que las historias pueden desempeñar un papel importante en nuestra propia historia. Porque cada día reescribimos y reinventamos las escenas que componen la obra de nuestra existencia.

"(...) Sabemos que en nuestro intestino Cuando estamos escuchando una buena historia (...)"
Jeremy Adam Smith, 2016. En el Gran Dios Publishing
[http://greatergood.berkeley.edu/article/item/science_of_the_story]



P.S - Vale la pena leer el artículo.

Comentários

  1. Mais um texto fabuloso :) Mais um gosto comum! É muito bom ouvir uma boa história, dá asas à imaginação, aprendemos muito, conhecemos mundo, experiências e pessoas! Faz-nos reflectir acerca de coisas que nunca na vida iríamos reflectir se não a ouvíssemos! E crescemos! Continua assim a contar histórias que estou aqui para as ler! Porque ouvir, só quando estivermos juntas...aí vamos ter de abusar das histórias! Eh eh eh! Saudades Amiga!

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  2. Obrigada, querida amiga! os teus reforços positivos são mesmo muito importantes para continuar esta minha mania/necessidade/vício de contar histórias através da escrita.

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