Paixão por palavras


Sinto falta de escrever. As últimas semanas foram preenchidas por muito «fazer» e «saber», e por isso, restou pouco tempo para me dedicar às minhas celestices - interessante perceber como, rapidamente, acuso os sintomas de ressaca. 
Faz-me falta voar ao sabor das palavras. Apaixona-me, cada vez mais, o seu poder e significado, a forma como podem ser combinadas para criar novos sentidos. A este propósito, lembro-me de uma palestra do Ricardo Araújo Pereira que me deixou pensativa. Além de admirar sua genialidade no uso das palavras e do humor, houve algo com o que senti, de imediato, uma forte identificação. O seu gosto pelas palavras tende a ser superior ao dos factos propriamente ditos. Pode parecer um paradoxo, pois sem factos talvez não houvesse nada para contar e, aí, a escolha de léxico poderia ser irrelevante. Porém, para quem se enamora das palavras, elas convertem-se em membros da família que desenham os factos. 






Talvez eu pertença a esse conjunto de pessoas estranhas, às quais não lhes basta o mundo. Pode parecer arrogante, mas, na verdade, esta consciência nada tem de superioridade, muito pelo contrário. Porventura seja um medo de sucumbir às atrocidades que vão acontecendo. Uma fragilidade que se encobre nos fios da criatividade e da imaginação e que se transforma num outro modo de viver. Não quer dizer com isto que me escape, constantemente, da realidade pura e dura – há que pagar contas, não é verdade?! Trata-se, apenas, de perspectivar o que acontece ao ritmo da minha essência – e, que, no meu caso é a escrita. 



Gosto de, por exemplo, ao ouvir música, ficar embasbacada com a conjugação de palavras que o compositor usou em determinada letra: “como é que se lembrou disto?”. Também me dá um esquisito prazer descobrir palavras novas no dicionário que poderão abrir o meu leque de possibilidades ou estar atenta aos diálogos dos filmes que encerram semânticas particulares. 


Por tudo isto, observar e brincar com as palavras, além de ser a minha cena, acaba por se revelar uma estratégia que me ajuda a parar. Suster o ritmo frenético dos dias que teimam em acelerar a olhos vistos, sem conseguirmos puxar o travão de mão. Cada vez mais estou certa de que, tão essencial como andar, é parar para olhar em volta. Ter, assim, a oportunidade de pausar e sentir a vida tal como ela é – com palavras que se tornam mágicas para quem não sabe viver sem o seu sabor.


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Texto en Español


Estraño escribir. Las últimas semanas se llenaron por mucho «hacer» y «saber», y por eso, quedaba poco tiempo para dedicarme a celestices - interesante percibir como rápidamente manifesto los síntomas de resaca. 


Me hace falta volar al sabor de las palabras. Me apasiona cada vez más su poder y significado, la forma como se pueden combinar para crear nuevos sentidos. Recuerdo una charla de Ricardo Araujo Pereira que me dejó pensativa. Además de admirar su genialidad en el uso de las palabras y del humor, hubo algo con lo que sentí, de inmediato, una fuerte identificación. Su gusto por las palabras tiende a ser superior al de los hechos propiamente dichos. Puede parecer una paradoja, pues sin hechos quizá no hubiera nada para contar y, entonces, la elección de léxico podría ser irrelevante. Pero para quien se enamora de las palabras, se convierten en miembros de la familia que dibujan los hechos. 

Tal vez yo pertenezca a ese conjunto de personas raras, a las que no les basta el mundo. Puede parecer arrogante, pero, en realidad, esta conciencia nada tiene de superioridad, al revés. ¿Acaso se trata de un temor de sucumbir a las atrocidades que van sucediendo. Una fragilidad que se esconde en los hilos de la creatividad y de la imaginación y que se transforma en otro modo de vivir. ¿No quiere decir con esto que me escape, constantemente, de la realidad pura y dura - hay que pagar cuentas, no es verdad? Es sólo una forma de aceptar la vida como es, pero no dejando de respirar al ritmo de mi esencia - y que, en mi caso es la escritura. 

Me gusta, por ejemplo, al oír música, quedar sorprendida con la conjugación de palabras que el compositor usó en determinada letra: "¿cómo se acordó de esto?". También me da placer descubrir palabras nuevas en el diccionario que podrán abrir mi abanico de possibilidades; o estar atenta a los diálogos de las películas que encierran semánticas particulares. 

Por todo esto, observar y jugar con las palabras, además de ser lo mío, es una estrategia que me ayuda a parar. Bajar el ritmo frenético de los días tienden acelarar, sin lograr sacar el freno de mano. Cada vez más estoy segura de que, tan esencial como caminar, es parar para mirar alrededor. Tener, así, la oportunidad de pausar y sentir la vida tal como es – y de preferência con palabras se hacen mágicas para quien no sabe vivir sin su sabor.

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