O olhar que muda a realidade




Tomei consciência, recentemente, de uma mudança de olhar em relação a algumas pessoas que cruzam o meu quotidiano. Entendi que houve uma melhoria na forma como me relaciono com elas, sem que tenha ocorrido um fenómeno que justificasse tal transformação. Refleti sobre este facto depois de ler um excerto do meu livro de bom dia* – ritual diário que incuti a mim mesma para o momento do pequeno almoço. 



Se olharmos os outros com uma visão de quem perspetiva algo real, podemos tornar-nos mais próximos. A maior parte do tempo, não fazemos isso porque dá trabalho; acabamos por colar-lhes rótulos e preconceitos, fruto das ideias estereotipadas que vamos construindo com a ajuda dos estímulos estressantes dos dias de hoje, como os meios de comunicação. Preferimos não pensar muito no que sente quem se cruza connosco, sobretudo naqueles por quem não nutrimos uma afinidade particular. Ou, ainda, nos casos dos que se tornam objeto das nossas raivas, ressentimentos ou, simplesmente, irritação (os chamados: “chatos que dói!”). De repente, já nem sabemos porque não gostamos daqueles seres, pois tudo é olhado com desdém, sendo quase inevitável que isso nos suceda porque somos humanos – tenho a ideia de que os animais não costumam ter estas tricas entre eles, e se as tiverem, por puro instinto de sobrevivência, a coisa não demorar a passar. 

Autoria: Nuno Galante

Nos últimos tempos, dei-me conta de que algumas pessoas de quem eu não gostava particularmente são afinal (ou somente!) pessoas reais, que sofrem e que têm a mesma vontade ser feliz do que eu. Essa descoberta não as transformou, repentinamente, em santas imaculadas a quem eu devo adoração, nem pouco mais ou menos. Também não significa que me tenha passado a identificar com toda a gente - longe disso! A amizade é demasiado valiosa para ser banalizada e reproduzida em larga escala. 

Aprendi, no entanto, a relativizar, em certa medida e, assim, não me deixo afetar pelos efeitos negativos que possam advir da convivência com essas pessoas. O resultado tem sido positivo, especialmente porque não perco muito tempo a pensar nisso. O truque é não me apegar demasiado aos julgamentos que a mente teima em dirigir, feita uma maestrina de orquestra clássica. Manter-me fiel a mim própria, sabendo quem sou e a quem me entrego – esses são OS especiais no meu coração. Porém, sabendo que a realidade pode ser ligeiramente melhor se o meu olhar contribuir para isso, sem cegueiras ou fantasias. Simplesmente, não complicar (ainda mais). 


*Atualmente estou a ler “Radical Aceptance” da Tara Brach.



________________________________________________________
Texto en Español

La mirada que cambia la realidad 

He tomado conciencia recientemente de un cambio de mirada hacia algunas personas que cruzan mi vida cotidiana. Entendí que hubo una mejora en la forma como me relaciono con ellas, sin que haya ocurrido un fenómeno que justificara tal transformación. Reflexioné sobre esto después de leer un extracto de mi libro de buen día * - ritual diario que me inculque a mí misma para el momento del desayuno. 

Si miramos a los demás con una visión de quien ve algo real, podemos llegar a ser más cercanos. La mayor parte del tiempo, no lo hacemos porque da trabajo; terminamos por pegarles rótulos y pre conceptos, fruto de las ideas estereotipadas que vamos construyendo con la ayuda de los estímulos estresantes de los días de hoy, como los medios de comunicación. Preferimos no pensar mucho en lo que siente quien se cruza con nosotros, sobre todo en aquellos por quienes no nutrimos una afinidad particular. O, aún, en los casos de los que se convierten en objeto de nuestras rabia, resentimientos o, simplemente, irritación (los llamados:”pesados”!"). De repente, ya no sabemos por qué no nos gustan aquellos seres, pues todo es mirado con desdén, siendo casi inevitable que eso nos suceda porque somos humanos - tengo la idea de que los animales no suelen tener estas discusiones entre ellos, y si las tienen, por puro instinto de supervivencia, la cosa no tardará en pasar. 

En los últimos tiempos, me he dado cuenta de que algunas personas de las que no me gusta particularmente son finalmente (o sólo!) personas reales, que sufren y que tienen la misma voluntad de ser feliz que yo. Esa descubierta no las transformó, repentinamente, en santas inmaculadas a quienes debo adoración, ni poco más ni menos. También no significa que me haya pasado a identificar con todo el mundo - lejos de eso! La amistad es demasiado valiosa para ser banalizada y reproducida a gran escala. 

Aprendí, sin embargo, a relativizar, en cierta medida y, así, no me dejo afectar con los efectos negativos que puedan venir de la convivencia con esas personas. El resultado ha sido positivo, especialmente porque no pierdo mucho tiempo pensando en ello. El truco es no apegarme demasiado a los juicios que la mente se mete en dirigir, como un mentor de orquesta clásica. Mantenerme fiel a mí misma, sabiendo quién soy y a quien me entrego - esos son los especiales en mi corazón. Pero, sabiendo que la realidad puede ser ligeramente mejor si mi mirada contribuye a eso, sin cegueras o fantasías. Simplemente, no complicar (aún más). 


* Actualmente estoy leyendo "Radical Aceptance" de Tara Brach.

Comentários

Mensagens populares