Instantes mágicos


Gosto de ouvir música enquanto me dedico aos afazeres domésticos, uma espécie de terapia à mão de semear e de baixo custo. No final, ficamos com a casa limpa, comidinha feita e cabeça arrumada! 

Estava, então, a tratar dos meus cozinhados para a semana quando ouvi, na rádio, uma musica da Celine Dion*, uma das canções típicas dos anos 90. Percebi, de imediato, o transporte da minha emoção para um tempo longínquo. Ao escutar aquela canção de Celine Dion, a minha mãe apareceu-me no pensamento, de uma forma tão forte que parecia estar, ali, a cozinhar comigo, ao mesmo tempo que dançávamos em modo tosco e cómico - a música, os filmes, os livros, a arte, no geral, tem a capacidade de evocar as memórias e fazê-las sair sem que tenhamos algum controlo nisso. 


A minha mãe dizia que a música era uma das coisas pelas quais valia a pena viver – concordo, em absoluto. Ela gostava tanto daquele álbum da cantora canadiana, na altura ouvíamos o CD, também, a fazer limpeza da casa! Agora escuto a música e penso no que a minha mãe poderia sentir quando a ouvia, talvez, também, trauteasse um bocadinho da letra e  abanasse o capacete nas partes mais dinâmicas?! Não sei. Não posso ter a certeza, até porque, com o passar dos anos, a nossa memória torna-se traiçoeira. A própria ciência tem vindo a comprovar que o ser humano é capaz de produzir e adaptar memórias. 

Estranho, não?! Será que vivi aquilo ou serei eu, agora, que adiciono ou retiro um outro elemento? O nosso Eu está em constante evolução. O que eu vejo hoje está impregnado da forma como eu me sinto no presente e posso observar o ontem também com esse olhar, alterando, ligeiramente, o que terá sucedido – não há como saber!

A meu ver, os momentos de remissão provocados por estímulos artísticos, como a música, acabam por ser instantes de memória muito perto da pureza. Talvez porque serão, somente, as sensações e as emoções que ficam, quando os factos se dissolvem e o nosso cérebro nos atraiçoa - e ele tem mesmo a tendência para nos dar a volta com uma pinta do caraças, não é?!

Por isso, agradeço quando esses instantes mágicos vêm ao meu encontro. Recebo-os como uma dádiva que me fazem viajar no tempo e no espaço, acolhendo com frescura, as vivências de outrora, que me tornam, também, no que sou hoje e no que serei, amanhã.



*Celine Dion “Pour que tu m'aimes encore”



_______________________________________________________________

Texto en Español



Instantes mágicos
Me gusta escuchar música mientras me dedico a las tareas domésticas, una especie de terapia de bajo costo. Al final, limpiamos la casa, preparamos la comida y ordenamos la cabeza!

Estaba, entonces, cocinando cuando escuché, en la radio, un tema de Celine Dion *, una de las canciones típicas de los años 90. Al escuchar ese tema de Celine Dion, mi mamá apareció en mi pensamiento, de una manera tan fuerte, que parecía estar cocinando conmigo allí, al mismo tiempo que estábamos bailando de una manera cómica - la música, las películas, los libros, el arte, en general, tienen la capacidad de evocar recuerdos y hacerlos salir sin que tengamos algún control sobre eso.

Mi mamá solía decir que la música era una de las cosas por las que valía la pena vivir – y estoy totalmente de acuerdo. Como le encantaba ese álbum de la cantante canadiense, y escuchábamos el CD, también limpiando la casa! Ahora escucho el tema y pienso en lo que mi mamá sentía cuando la oía, ¿tal vez también cantaba un poquito las letras y movería su cuerpo en las partes más dinámicas? No sé. No puedo estar segura, porque, con los años, nuestra memoria se vuelve traicionera. La ciencia misma ha demostrado que el ser humano es capaz de producir y adaptar recuerdos.

Extraño, ¿no es así? ¿Realmente viví eso o seré yo que agregue o elimine otro elemento? Estamos en constante evolución. Lo que veo hoy está impregnado de la forma como me siento en el presente y puedo mirar el ayer también con esos ojos, adaptando, suavemente, de lo que habría sucedido; no hay forma de saberlo.

En mi opinión, los momentos de remisión causados ​​por estímulos artísticos como la música resultan ser momentos de memoria muy cercanos a la pureza. Tal vez porque solo serán las sensaciones y emociones que permanecen, cuando los hechos se disuelven cuando nuestros cerebros nos traicionan, y ellos tienen la tendencia a darnos la vuelta muy fácil, ¿verdad?

Por eso, estoy agradecida cuando esos instantes mágicos vienen a mi encuentro. Los recibo como un regalo que me hace viajar en tiempo y espacio, acogiendo con frescura las experiencias de ayer, que también hacen lo que soy hoy y lo que seré mañana.



* Celine Dion "Pour que tu m'aimes encore"


Comentários

Mensagens populares