És minha, desde sempre...

És minha, desde sempre. Mesmo antes de nasceres, já te imaginava! Na época, com 5 anos, esperava ter um irmão em vez de uma irmã e tinha tudo planeado para poder brincar com uma pista de carros telecomandados – esse não era brinquedo admitido às meninas dos anos 80. Mas a rifa saiu ao contrário, como disse o obstetra da nossa mãe, expressando um humor machista: -“Falta-lhe um bocado, é uma rapariga!”


Nos primeiros anos da infância, desempenhei bem a minha função de irmã mais velha: a ‘tortura’, as brincadeiras, as brigas saudáveis (entre raparigas, o clássico puxar de cabelos). Depois da cena do filme dramático acontecer na nossa vida, começámos a ver filmes diferentes. Ou, por outra, o filme foi sempre o mesmo, a perspetiva é que era distinta: por vezes, era eu que usava os óculos 3D, outras vezes eras tu que os punhas para ver melhor… ou então, saíamos, alternadamente, para comprar pipocas!

A vida continuou, como tinha de ser. Olho para trás e vejo os anos de rebeldia, desencontro, dificuldades! E eu, com a sensação de não ter conseguido cumprir com sucesso o único papel que me cabia: ser irmã – aquela amiga, confidente, porreiraça! Muitas vezes, fui a chata de serviço com uma responsabilidade que me sufocava, mas que eu não declinava, nunca. Houve momentos em que todo o bem e todo o amor se misturaram com demasiada proteção e critica, vistas por ti como julgamento ou, até, alguma superioridade da minha parte: a irmã que é irmã mas tenta ser a mãe mas não deixa de ser a irmã… [Esta sequela seria difícil de dirigir até, para mim, uma potencial candidata a realizadora de dramas!]

Sabia lá eu…! Será que alguém sabe? Não há nenhum livro de instruções para sobreviver à morte tão precoce de uma mãe. Menina também eu era… “proteção”, também eu pedia. Mas disfarçava, como se pudesse tomar em mim o papel de Deus e suprimir o sofrimento alheio.


Hoje, mulheres feitas com a vida a correr. A lutar, cada uma à sua maneira, cada uma com o seu feitio, cada uma com as suas armas. Cada uma, de um lado do oceano Atlântico, enfrentando realidades muito diferentes. Batalhas distintas, garras semelhantes (herança do nosso pai). Continuas a ser a minha menina irmã, um bocadinho filha. Sei sempre – até pelo teu tom a digitar num chat – como te sentes e ‘voo’ em teu socorro… percorrendo os megabytes da rede global que nos aproxima, com a maior velocidade que o meu coração consegue alcançar. Abraço-te com os braços longos da loucura de te aceitar como és, com todos os teus achaques, defeitos e mau humor ao acordar.

Não sei se alguma vez te disse: és uma Maria Capaz. Nunca duvides disso. E, talvez, seja eu, agora, que precise que sejas tu, a mãe, de vez em quando (a tal chata à distância de um clique).



P.S - Até de palhaça já fiz - literalmente - por tua causa... :) Orgulho!
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Texto en Español

Eres mía desde siempre. Incluso antes de que nacieras, ya te imaginaba! Yo tenia 5 años, y esperaba tener un hermano en el lugar de una hermana y tenía todo planeado para poder disfrutar  de coches controlados a distancia – un juguete no admitido a niñas en los años 80. La suerte salió al revés, como dijó el obstetra de nuestra madre, en un comentário machista : - "le falta un pedazo… es una niña!"

En los primeros años de la infância, hice bien mi papel de hermana mayor: la "tortura", los chistes, las peleas sanas (entre las niñas, el  tirón de pelo clásico). Después de pasar la escena de una película dramática en nuestra vida, empezamos a ver películas diferentes. O, por otro lado, la película era siempre la misma, la perspectiva era diferente: a veces era yo que veia con los anteojos 3D, a veces eras vos que los ponías  para ver mejor ... y saliamos alternativamente para comprar pochoclos!

La vida siguió, como tenía que ser. Miro hacia atrás y veo los años de rebeldía, desacuerdo, dificultad! Y yo, con la sensación que no cumpli con éxito el papel que me correspondía a mí, ser la hermana - la amiga, confidente, macanuda! A menudo fui muy pesada… con una responsabilidad que me estaba ahogando, pero no me negué, nunca. Hubo momentos en que todo el bien y todo el amor se mezclaron con demasiada protección y crítica, visto por vos como un juicio o incluso alguna superioridad de mí parte: la hermana que es la hermana pero trata de ser la madre pero sigue siendo la hermana ... [Esta pelicula sería difícil de dirigir, hasta para mi, una potencial candidata a directora de dramas!]

Que sabia yo ...! ¿Alguien sabe? No hay un libro de instrucciones para sobrevivir a la muerte tan temprana de una madre. También una niña era yo! Contención tambien necesitaba yo. Pero ese sufrimiento lo encubria, como si me podría tomar el papel de Dios y suprimir el sufrimiento de los demás.

Hoy en día, somos dos mujeres  hechas com la vida siguiendo adelante. Luchando, cada una a su manera, cada una con su carácter, cada una con sus armas. Cada una en un lado del Océano Atlántico, frente a realidades muy diferentes. Diferentes batallas, corajes iguales (herencia de nuestro padre). Todavía eres mi hermana chica, una pequeña hija. Percibo siempre - incluso cuando escribis en un chat - cómo te sentis «vuelo» en tu ayuda ... pasando por los megabytes de lared global que nos acerca, con la velocidad más rápida que mi corazón puede lograr. Te abrazo con los brazos largos de la locura de te aceptar como eres, con todos tus achaques, defectos y mal humor al despertar.


No sé si alguna vez te dije: eres una María Capaz! No lo dudes. Y, tal vez, ahora tenes que ser vos, la madre, de vez en cuando.

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