Escrever... Porque podemos voltar a nós.
Escrever…
Como uma manta de retalhos, vou cosendo
as memórias e remendo-as com as ideias que ganham vida na minha cabeça. As
frases e os parágrafos transformam-se em aguarelas que uso para compor o quadro
– e, às vezes, é tão difícil escolher a cor perfeita! Quando escrevo, parece que
entro num transe conduzido por palavras que dançam à minha volta, esperando que
eu as apanhe e, com um pouco sorte, consiga formar uma bonita sequência. Escrever
é, para mim, um puzzle não perfeito e nunca completo, no qual me divirto e, desespero,
em busca das peças apropriadas.
De onde vem isto?
Há dias, em conversa com uma
amiga, lembrei-me que herdei isto da
minha mãe - nunca mais havia pensado neste assunto. Com o passar dos anos, há coisas sobre
aqueles que já morreram que vamos esquecendo e emerge o receio de que, com as
lembranças, possa também escapar a memória da pessoa em si. Não sei se só me
acontecerá a mim, mas confesso já ter tido medo de não me lembrar da cara da
minha mãe. De perder para sempre o desenho do seu rosto, gravado na minha alma.
E se algum dia me esquecer daquele nariz com
personalidade, do tom de pele moreno e sardento, ou do seu cabelo negro e estupidamente liso? E se alguma vez me
esquecer dela? Haverá algum disco para armazenar memórias em lugar seguro?
Voltando ao que eu achava que
tinha esquecido: a minha mãe escrevia. Desde jovem gostava de rabiscar poemas,
pequenos textos ou diários. Não tinha formação superior, fez a escola primária
e alguns anos do secundário a muito custo, alimentando o sonho - nunca
concretizado – de estudar. Recordo-me – as memórias são como as cerejas, depois
de resgatarmos uma do baú das recordações, outras quantas vêm agarradas – que ela
gostava de me ver estudar só para folhear os livros, aquela admiração de quem desejaria
ter seguido outro caminho. Como na minha vida muitas coisas aconteceram ao contrário
do que é costume, era eu que lhe dava explicações de português – uma língua
estrangeira que só teve contacto aos 38 anos de idade, e para a qual dedicava
esforço em aprender.
À medida que o tempo passa, cada
vez mais sinto que tudo na vida está interligado, embora nós achemos, por conveniência
e alguma arrogância, que não. Há coisas que não se explicam e a minha
necessidade de escrever (não vou chamar vocação ou talento porque estaria a ser
presunçosa) é uma herança que me foi transmitida, mesmo antes de eu nascer. Escrever:
contar histórias para emocionar. Partilhar. Viver.
Porque podemos voltar a nós…
Escrever…
P.S – Um dia destes, vou resgatar
do baú alguns textos dela…
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Texto en Español
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Texto en Español
Escribir ...
Como un mosaico, voy cosiendo con
aguja las memoria con las ideas que vienen a la cabeza. Frases y párrafos se
transforman en acuarelas para componer un cuadro – y a veces es tan dificil
elegir el color perfecto! Cuando escribo, parece que entro en un trance llevada
por las palabras que bailan a mi alrededor, esperando a que yo las agarre, y
con un poco de suerte, logre formar una secuencia bonita. La escritura es, para
mí, un rompecabezas no perfecto y nunca terminado, que disfruto, y desespero,
en busca de las partes adecuadas.
¿De dónde viene esto?
Hace unos días, en una
conversación con una amiga, me acordé que heredé esto de mi mamá - nunca había pensado en ello. Con los años, hay
cosas de los que se han muerto que se olvidan y surge el temor de que, con los
recuerdos, también se escape de la memoria de la persona. No sé si pasa solo
conmigo, pero confieso ya haber tenido miedo de no recuerdar la cara de mi mamá.
De perder el diseño de su cara grabada en mi alma. Y si alguna vez me olvido de
la nariz con personalidad, el tono de piel moreno, llena de pecas, o su pelo
negro y estúpidamente recto? Y si alguna vez me olvido de ella? Habrá algun
disco para almacenar recuerdos en algún lugar seguro?
Volviendo a lo que pensé que había
olvidado: mi mamá escribia. Desde muy joven, escribia poemas, textos cortos o diarios.
No tenía una carrera universitaria, hizo la escuela primaria y de algunos años
de secundaria con gran sacrificio, alimentando el sueño - que nunca se llegó a
cumplir - de estudiar. Recuerdo – las memorias son como las cerezas, después de
que se rescata una del baúl de las recordaciones, otras cuantas vienen
agarradas - le gustaba verme estudiar sólo para hojear los libros, con esa
admiración de quien gustaria haber seguido otro camino. En mi vida han pasado
muchas cosas al revés, y era yo que le dava explicaciones de portugués- un
idioma extranjero para ella que sólo tuvo contacto a los 38 años de edad, y al cual se dedicava aprender.
A medida que pasa el tiempo, cada
vez más siento que todo en la vida está interconectado, aunque nosotros creemos
que no, para mayor comodidad y alguna arrogancia. Hay cosas que no se pueden
explicar y mi necesidad de escribir (no voy a llamar vocación o talento, ya que
sería pedante) es un legado que me fue transmitido, incluso antes que yo hubiera
nacido. Escribir, contar historias para emocionar. Compartir. Vivir.
Porque podemos volver a nosotros
... Escribir...
P.S - Uno de estos días, voy a
rescatar algunos de sus textos…
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