Mulheres independentes: um sonho e um caminho
Tenho-me lembrado, com frequência, das tardes em que eu não tinha aulas e ia para o teu local de trabalho, fazer os trabalhos de casa. Tantos anos corridos, aqueles momentos permaneceram na minha memória como muito mais do que umas sessões de estudo; uma espécie de laboratório de criatividade que fez crescer em mim o bichinho da escrita. Nessas tardes de imaginação, escrevemos, as duas, aquela peça de teatro que depois foi encenada na minha escola – na época, ainda eu sonhava com o mundo do cinema e em conhecer algumas estrelas de Hollywood.
Os meus sonhos e devaneios de adolescente eram, por vezes, refreados pelos teus conselhos – típicos de mãe: – “Estuda para não teres de lavar casas de banho como eu… nem depender de ninguém. Estuda, minha filha, porque se estudares podes tornar-te uma mulher independente…” – como tu adoravas essa expressão e fazias questão de remarcar a palavra in-de-pen-den-te (do homem, claro!) – «Quem estuda pode ter uma vida melhor e trabalhar no que gosta».
Pois, minha mãe, concordo contigo. Creio que vale a pena estudar, vale a pena querer saber mais, lutar pelos nossos sonhos, tentar fazer o que gostamos e, mais do que tudo, gostar do que fazemos. Mas o mundo de hoje é tão diferente daquele que tu conheceste!
Hoje em dia «estudar» não é garantia de uma vida melhor. Não é garantia, sequer, de ter um emprego. Vejo tantas mulheres com cursos superiores (nos últimos 20 anos, a percentagem de mulheres nas universidades é muito superior à dos homens), à espera de oportunidades. Ou, quando as conseguem, a maior parte das vezes ganham menos do que os homens, nas mesmas funções. Mulheres competentes de todas as áreas, mulheres geniais e com condições precárias de trabalho, sem direito a segurança social, subsídio de maternidade ou desemprego. Mulheres que trabalham, estudam, fazem formações, mestrados, doutoramentos e continuam a querer aprender mais, ao longo da vida (e além disso, em muitos casos, com filhos, e/ou pais a seu cuidado).
A geração de mulheres de hoje talvez seja a mais qualificada de sempre. E, nem por isso, a que vive melhor, nem a que ganha melhor. Tempos duros, minha mãe. Também foram os teus, de outro modo. Continuaremos a batalha das mulheres independentes.
Confesso que também adoro a expressão. Herança tua. Sonho teu. Caminho, meu.
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Texto en Español
Me recuerdo, a menudo, de las tardes en que no tenía clases y iba a tu trabajo, hacer las tareas. Tantos años pasaron, esos momentos se quedaron en mi memoria como mucho más que unas sesiones de estudio; una especie de laboratorio creativo que hizo crecer en mí el gusto por la escritura. En esas tardes de imaginación, escribimos las dos, una obra de teatro que más tarde fue puesta en escena en mi escuela - en esa epoca, soñaba con el mundo del cine y conocer algunas estrellas de Hollywood.
Mis sueños y fantasías adolescentes fueron a veces cortados por tus consejos típicos de madre: - "Estudiá para no tener que lavar baños como yo... no depender de nadie. Estudiá, mi hija, porque si estudias puedes convertirte en una mujer independiente... "como te gustaba esa frase y subliñar la palabra in-de-pen-den te (del hombre, por supuesto) -" ¿Quién estudia puede tener una vida mejor y trabajar en lo que le gusta".
Pues, mamá, estoy de acuerdo con vos. Creo que vale la pena estudiar, querer saber más, luchar por nuestros sueños, tratando de hacer lo que nos gusta y, más que nada, gustar de lo que hacemos. Pero el mundo de hoy es muy diferente de lo que vos conociste.
Hoy en día "el estudio" no es garantía de una vida mejor. No está garantizado, incluso, tener un trabajo. Veo tantas mujeres con un diploma (en los últimos 20 años, el porcentaje de mujeres en las universidades es mucho mayor que para los hombres), esperando oportunidades. Aun cuando trabajan, la mayoría de los casos ganan menos que los hombres en las mismas funciones. Mujeres competentes en todas las áreas, mujeres brillantes y con malas condiciones de trabajo, sin obra social, subsidio de maternidad o desempleo. Mujeres que trabajan, estudian, hacen formaciónes, maestrías, doctorados y todavía quieren aprender más y más (incluso, en muchos casos, con hijos y / o padres a su cuidado).
La generación de mujeres de hoy puede ser la más cualificada de sempre, aún así, no es la que esta mejor. Tiempos difíciles, mamá. También fueron los tuyos, de otra forma. Vamos a seguir la batalla de las mujeres independientes.
Confieso que también me encanta la expresión. Herencia tuya. Sueño tuyo. Camino mio.
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