O Senhor Hugo - ou o Senhor Bigode Charmoso
É tão fácil e, ao mesmo tempo, tão
difícil falar do Senhor Hugo… talvez porque tenhamos uma relação única e, por isso,
as palavras não façam jus ao que nos caracteriza. Não por sermos pessoas
melhores ou piores do que as outras, aliás, somos bastante semelhantes à
maioria dos mortais. O que nos poderá distinguir passa pela tenacidade e
estabilidade do elo que une as nossas almas, o qual, nos últimos anos, teve de aprender
a atravessar um oceano - e sem, no entanto, apresentar sintomas de desgaste ou afogamento.
As nossas histórias são cheias de
distâncias. A vida consegue ser tão engraçada – ou pouco imaginativa – que repete
episódios: o meu pai também cresceu, apenas, com a família nuclear (pai, mãe e
irmão) sem ligação a tios, primos, avós – já que, o meu avô, sendo português, viajou
aos 18 anos para a Argentina, onde viveu até aos 90 anos. Em adulto, o Senhor
Hugo emigra – com mulher e filhas – para a terra dos seus ascendentes –
Portugal – na qual reside durante um quarto de século. Sem falar uma palavra de
português, distingue-se, rapidamente, pelo empenho e capacidade de trabalho. Os
anos passam e nunca mais volta a ver o seu pai e o abraço da sua mãe acaba por acontecer, somente, 20 anos depois – e um mês após o reencontro, a minha avó
parte deste mundo, talvez estivesse à espera de ver o filho para seguir viagem. A sua grande força
estaria por se revelar, quando enviúva,
aos 43 anos (a mesma idade de viuvez do seu irmão – mais uma irónica coincidência)
e duas filhas a seu cargo, num país estrangeiro e praticamente nenhum apoio.
Estes são factos da vida – acontecimentos comuns a tantos outros homens e
mulheres do mundo inteiro.
O que distingue o Senhor Hugo não são
os factos; é a forma como lida com eles. Incorpora naturalmente o mindfulness no seu chip, pois aceita as suas circunstâncias e agradece tudo o que tem,
momento a momento. Não é que tenha uma vida cor-de-rosa – nem perto disso! –
porém, destaca, sempre, o lado cheio do copo, mesmo quando as tragédias batem à
sua porta – e, algumas foram persistentes em entrar. Nunca abriu a porta à
depressão, ao derrotismo ou à frustração. As suas armas são a determinação, o otimismo
e nunca baixar os braços – por mais que doam.
Podia contar tantos episódios…mas suspeito
que ele não me deixaria fazê-lo porque nunca se achou um ser extraordinário: - «Sou
um pai e faço o que tenho de fazer. Simples.» Há uma energia vital que o move e
que se expande por todos o contactam. É de longe – muito longe – a pessoa mais
positiva que conheço. Saca da carta
de humor nas situações mais absurdas e difíceis e tudo se torna descomplicado. Senti-me eu, tantas e
tantas vezes, uma velha-senhora-séria-e-chata na presença de um espirito jovem e
aberto como aquele. Não há temas tabu
e é uma delícia passar horas a conversar com ele. Mostra-se disponível para
aprender com a sua personalidade particular, como foi o caso de quando teve
aulas comigo de informática. Numa sessão em que toda a turma estava
empenhada em aprender a enviar emails, o Senhor Bigode Charmoso testa a funcionalidade de endereço electrónico, dirigindo
uma mensagem à formadora (eu):
-
Faz intervalo! Quero fumar um cigarro!
A paciência é o seu nome do meio,
mesmo quando há processos que tirariam do sério qualquer santo - «Tudo
tranquilo!». Pode parecer, com esta descrição, que se fala de um homem
perfeito, mas nada disso…! Trata-se de um ser humano cheio de defeitos, teimoso e que cometeu muitos erros no seu
percurso. Com efeito, acredito que são, também, as falhas que nos tornam
especiais – alguém perfeito não tem piada nenhuma! – e é um todo o que amamos, mesmo
quando esse todo acrescenta carradas
de sal a um prato de bacalhau seco e não demolhado!
Não sei onde estaria – onde
estaríamos, eu e a minha irmã – se não fosse a sua visão da vida: - «Para a frente
é que é o caminho!» Deu-nos colo, sempre com autonomia. Hoje agradeço todas as
vezes que me obrigou a fazer recados – pagar contas, ir aos correios e andar
de transportes públicos - com pouco mais de 8 ou 9 anos de idade. Ensinou-me a
reivindicar os meus direitos – foram tantas as cartas que escrevi a todos os
tipos de instituições que fiquei apta em reclamações – e, sobretudo, a
argumentar a minha opinião. «Se tens algo a dizer, diz. Seja a quem for – ao
Papa ou ao Presidente da República – desde que seja com educação». Falta de
educação é que nunca foi admitida na minha casa e seria considerado o maior de
todos os pecados para este pai.
Somos tão diferentes de tantos outros
pais e filhos que vejo por aí. Uns vivem lado a lado e quase não comunicam ou
fazem-no em modo picar o ponto: - «Hoje
está frio. E jogou o Benfica. Até amanhã».
Outros sobrevalorizam os bens materiais, as contas bancárias e as
propriedades que poderão herdar – uma modalidade de amor em forma de números. No
final, nada disso importa: - «não vamos sair daqui com vida!».
O mais interessante é que, independente
do caminho que seguir, sei que posso contar com ele. A certeza de que não vou
ser julgada, mesmo que cometa um crime horrendo,
e que ele estará sempre ali, de que maneira for - pessoalmente, através de um
ecrã de computador, de um telefone, ou de mera telepatia. O seu tom de voz em
forma de sotaque portunhol tem um
efeito instantâneo no meu estado de ânimo e consegue, em segundos, ir buscar-me
às profundezas da negatividade.
Feliz Natal, Senhor Hugo! – mais uma consoada sem me rir contigo. A saudade faz doer a alma, e só se torna suportável pelas
ferramentas de vida que me deste. Obrigada.
P. S - Espero que o universo nos deixe
dar o abraço almejado, em breve.
_________________________________________________________________________________
Texto en Español
_________________________________________________________________________________
Texto en Español
Es tan fácil y al mismo tiempo tan difícil hablar del Señor
Hugo... tal vez porque tenemos una relación única y, por lo tanto, las palabras
no hacen justicia a lo que nos caracteriza. No porque seamos mejores o peores
que las demás personas, por cierto, somos bastante similares a la mayoría de
los mortales. Lo que nos puede distinguir podrá ser la tenacidade y la
estabilidad del enlace que une nuestras almas, y que, en los últimos años, tuvó
que aprender a cruzar un océano - sin, sin embargo, ni señal de desgaste o
ahogamiento.
Nuestras historias son hechas de distancias. La vida puede
ser tan comica - o poco imaginativa – por la repetición de episodios: mi padre
también creció sólo con la familia nuclear (padre, madre y hermano) sin
conectarse a tíos, primos, abuelos - ya que, mi abuelo, era portugués, y viajó
a los 18 años a la Argentina, donde vivió hasta los 90 años. En adulto, el
Señor Hugo emigra - con su esposa y sus hijas - a la tierra de sus antepasados - Portugal – donde se
queda por más de un cuarto de siglo. Sin hablar
una palabra de portugués, se destaca rápidamente por su compromiso y capacidade
de trabajo. Los años pasan y nunca vuelve a ver a su padre y el abrazo a su
madre solo sucede 20 años después - y un mes después de la reunión, mi abuela muere,
tal vez estaba esperando para ver a su
hijo antes de irse. Su gran fuerza se revelaria cuando queda viudo, a los 43
años (la misma edad de la viudez de su hermano - más una coincidencia irónica)
y com dos hijas a su cargo en un país extranjero y prácticamente ningún apoyo.
Estos son hechos de la vida - los acontecimientos ordinarios a tantos otros
hombres y mujeres en todo el mundo.
Lo que distingue al señor Hugo no son los hechos; es la
forma como los lleva. Naturalmente incorpora el mindfulness en su postura, porque logra aceptar sus circunstancias
y agradecer todo lo que tiene, momento a momento. No tiene una vida de color
rosa - ni cerca! - sin embargo, pone de relieve, siempre, la parte llena del
vaso, incluso cuando las tragedias le tocan a su puerta - y algunas estaban
determinadas en entrar. Nunca abrió la puerta a la depresión, al derrotismo o
la frustración. Sus armas son la determinación, optimismo y nunca bajar los
brazos - por más que duelan.
Hay tantos episódios que podría contar... pero sospecho que
no iba a dejarme hacerlo porque el nunca se considero un ser extraordinario: -
"Soy un padre y hago lo que tengo que hacer. Simple.” Hay una energía
vital que lo mueve y se expande por todos los que lo conocen. Es de lejos – muy
lejos - la persona más positiva que conozco. Saca de la letra el humor en las
situaciones más absurdas y difíciles y todo se vuelve descomplicado. Me sentí, muchas veces, una vieja-señora-seria-y-pesada
en presencia de un joven y de mente abierta como aquel. No hay temas tabú y es
una delicia para pasar horas charlando con él. Se muestra disponible para
aprender con su personalidad particular, como fue el caso de cuando me fue mi
alumno en clases de informática. Una sesión en que la clase estaba
aprendendo a enviar emails, y el galan del bigote probó el correo electrónico con
este mensaje a la profesora (yo):
- Hace una pausa! Quiero fumar un cigarrillo!
La paciencia es su segundo nombre, incluso cuando hay
procesos que lo tomaría de punta cualquier santo- "Tranqui…!". Puede
parecer, con esta descripción, que se habla de un hombre perfecto, pero nada de eso
...! Se trata de un ser humano lleno de defectos, testarudo y que há cometido
muchos errores en su ruta. De hecho, creo que es también los defectos que nos
hacen especiales - alguien perfecto no tiene gracia en absoluto! - Y es el todo
que queremos, incluso cuando es ese todo
llena de sal un plato de bacalao seco!
No sé dónde estaría - dónde estaríamos, mi hermana y yo -
sin su visión de la vida: - "Para adelante!" Nos dio contencion,
siempre de forma independiente. Hoy le agradezco todas las veces que me mandó hacer
mandados - pagar las facturas, ir a los correos y andar en transportes públicos
- con poco más de 8 o 9 años de edad. Me enseñó a reclamar mis derechos - eran
tantas cartas que escribía a todo tipo de entidades públicas que me torne capaz
en quejas - y, sobre todo, para argumentar mi opinión. "Si tenes algo que
decir, decilo. Sea quien sea lo podes decir – sea el Papa o el Presidente de la
República - siempre que se sea con educación ". La falta de educación nunca
entro en mi casa y sería considerado el más grande de todos los pecados para mi
padre.
Somos tan diferentes a tantos otros padres y hijos que
conosco. Unos viven lado a lado y casi no se comunican o lo hacen de forma muy
seca: - "Hoy esta frío. Y jugo Benfica. Hasta mañana". Otros ponen
demasiado énfasis en los bienes materiales, cuentas bancarias y propiedades que
pueden heredar - una forma de amor en forma de números. Al final, nada de eso
importa: - "no vamos a salir de aquí con vida!".
Lo más interesante es que, independientemente de la ruta a
seguir, sé que puedo contar con él. La certeza de que no voy a ser juzgada,
incluso si cometeria un crimen atroz, y que siempre estará allí de alguna
manera - en persona, o a través de una pantalla de un ordenador, o teléfono, o por
mera telepatía. Su voz en forma de acento portunhol
tiene un efecto inmediato en mi estado de ánimo y puede, en cuestión de
segundos, sacarme de las profundidades de la negatividad.
Feliz Navidad, señor Hugo! – outra navidad sin reirme con voz al lado. La nostalgia duele el alma, pero sólo se hace soportable por las
herramientas de la vida que me diste. Gracias.
PS - espero que el universo nos de la oportunidad del abrazo
deseado, pronto.
Comentários
Enviar um comentário