Aquele dia do calendário

Havia um certo dia do calendário que ela teimava em não marcar. Já lhe tinha passado pela cabeça engendrar uma artimanha para passar do 7 para o 9, sem ter de viver as 24 horas (tantas!) do dia 8 de julho – quem sabe, uma boa ideia para um cientista maluco. Desde há muitos anos, a proximidade do aniversário, deixava-a apoquentada. Tratar-se-ia de um mero e tão comum receio de envelhecer? Humm… não seria esse o caso, pois ela não se importa demasiado com a tal da P.D.I ou, pelo menos, tenta rir-se com ela (não dela!). Na realidade, aquela data não evoca o júbilo esperado porque corresponde ao dia, no ano inteiro, em que sente mais saudades da sua mãe, que viu partir muito cedo – suponha-se que seja um sentimento comum a quem experienciou perdas precoces. Para ela, acaba por ser um paradoxo, o momento em que se celebra a vida e a constatação de que a origem de tudo, já não está cá. Não está cá para puxar as orelhas X vezes – uma por cada ano – nem fazer demonstrações pateticamente lamechas do seu amor (como só ela sabia fazer!).

Autoria da imagem: Adriana Oliveira

É uma fascinada por histórias e memórias. Contam-lhe os familiares mais próximos que o seu nascimento fora muito desejado pelos seus pais, após anos e anos de tentativas para terem filhos. A sua chegada foi, assim, como uma bênção naquele lar e, por isso, os aniversários transformaram-se em acontecimentos festivos obrigatórios. Havia tantas razões para celebrar a vida! O seu pai enchia-a de brinquedos – os topo de gama da época – e a sua mãe era um bocadinho mais forreta, mas caprichava no aspeto impecável das roupas, nos totós e nos penteados. Os seus tios enchiam-na de mimo e as suas costelas doíam de tanto rir nas alturas de reunião familiar – é maravilhoso ficar dorido à custa de gargalhadas, não é?! - À sua volta, desde sempre, muito amor.


Talvez por ter reservas de amor bem aprovisionadas é que lhe foi sendo possível, ao longo do tempo, ultrapassar as intempéries. Ela acredita que o amor – sob todas as formas e feitios - é a chave de tudo. Como dizia Pablo Neruda: “Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida”. E é com essa inspiração que ela acalma o pequeno coração, a cada 8 de julho. Hoje sente-se grata por mais um aniversário, mais um ano de vida em que vale a pena viver para continuar a sonhar.

P.S - Obrigada, Tia Maria, pelas memórias.
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Texto en Español
Aquel día del almanaque

Había un cierto día del almanaque que ella insistía en no marcar. Ya le había pasado por la cabeza engendrar una artimaña para pasar del  7 al 9, sin tener que vivir las 24 horas (tantas!) del día 8 de julio - quién sabe, una buena idea para un cientista loco. Desde hace muchos años, la proximidad de su cumpleaños, la dejaba angustiada. ¿Se trataría de un mero y tan común temor de envejecer? Humm ... no sería éste el caso, pues no le importa demasiado la edad o, al menos, intenta reírse con ella (no de ella!). En realidad, aquella fecha no evoca la alegria esperada porque corresponde al día, en todo el año, en que estrãna más a su mamá, que se fué  muy temprano de la vida – se supone que es un sentimiento común a los que experimentan pérdidas precoces. Para ella, acaba por ser una paradoja, el momento en que se celebra la vida y la constatación de que el origen de todo, ya no está acá. No está acá para tirar de las orejas X veces - una por cada año - ni hacer demostraciones pateticamente emotivas de su amor (como sólo ella sabía hacer!).

Es una fascinada por historias y memorias. Le cuentan los familiares más cercanos que su nacimiento fue muy deseado por sus papás, después de años y años de intento para tener hijos. Su llegada fue como una bendición en aquel hogar y, por eso, los cumpleãnos se transformaron en acontecimientos festivos obligatorios. ¡Había tantas razones para celebrar la vida! Su papá la llenaba de juguetes -los mejores de esa época- y su mamá era un poco más ahorrativa, pero muy prolija con respeto al aspeto impecable de las ropas, de las colitas y peinados. Sus tíos la llenaban de mimos y sus costillas dolían de tanto reír en las reuniónes familiares - es maravilloso quedarse dolorido de reirse a carcajadas, ¿no? - A su alrededor, desde siempre, mucho amor.


Tal vez por tener reservas de amor bien abastecidas, le fue posible, a lo largo del tiempo, sobrepasar las intemperies. Ella cree que el amor – en todas sus formas - es la clave de todo. Como decía Pablo Neruda, "Si nada nos salva de la muerte, al menos que el amor nos salve de la vida" y es con esa inspiración que tranquiliza  su pequeño corazón, en cada 8 de julio. Hoy se siente agradecida por un año más, en que vale la pena vivir para seguir soñando.

P. S - Gracias Tia Maria, por las memorias que me inspirarón.

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