Retrato de uma espécie rara

Confesso que não me apraz a ideia da exposição pública que, atualmente, as redes sociais vieram alimentar. Faz-me alguma confusão as múltiplas demonstrações de amor super apaixonadas, distribuindo fotos, momento a momento, para que não se perca pitada dos jantares românticos e das prendas trocadas – como se estivéssemos todos numa série de televisão. Em muitos casos, no minuto seguinte, os tais apaixonados estão separados e, mais uma vez, voltam ao facebook para lavar a roupa suja - quais tanques do antigamente. A tecnologia trouxe coisas maravilhosas, tantas, tantas… porém, algo de menos positivo também veio com ela. Creio que contribuiu para emburrar o ser humano nas suas relações sociais - nessa reflexão, sinto-me uma felizarda por ter nascido nos anos 80 e ter crescido sem internet, sem selfies e sem registos digitais descontrolados e incontroláveis.



Hoje faço uma exceção e abro um pouquinho o livro das selfies domésticas. Parece que faz anos – não posso dizer quantos - uma espécie rara cá de casa. Não tem perfil de Facebook, Instagram, ou Twitter – será que esta pessoa existe mesmo ou não passa de imaginação minha?! O seu telemóvel atesta a sua falta de apego à inovação, uma vez que continua a usar um modelo Nokia à prova de quedas – os mais resistentes! Não é nenhum homem das cavernas ou um info excluído - termo erudito usado para apelidar os homens e mulheres que não estão em contacto com a tecnologia – e revela-se um utilizador altamente proficiente dos meios tecnológicos – quando necessita deles. É, sem dúvida, um dos aspetos que mais admiro: não aceita ser refém da máquina, mas consegue fazer um bom uso da mesma, quando a situação assim o exige. A vida faz-lhe mais sentido se for no contexto da natureza – houve uma época em que viveu numa cidade cosmopolita e veio de lá com sintomas de ressaca do campo e das paisagens de montanha. É no meio da floresta que é mais feliz e, se possível, em volta dos seus mais que tudo – os cogumelos. Esses chegam a causar-me algum ciúme – sou uma miúda um nadinha ciumenta – pois consomem grande parte da sua atenção – sobretudo no outono, quando eles abundam. A minha sorte – e creio que também a dele – é ter descoberto, nos últimos anos, que gosto mais da natureza do que imaginava e da inspiração que traz ao meu dia a dia.
            
Genuinidade talvez seja a característica que mais aprecio nesta espécie rara. Não inventa, nem aparenta. Apresenta-se tal como é, simplesmente. Nem sempre é fácil de lidar com a sua maneira de ser, uma vez que a marretice é o seu nome do meio. É um leão de signo e na vida - um guerreiro em busca do horizonte, que vai revelando a sua generosidade. Inteligente e sensível, mas nada lamechas – essa parte fica para mim. Tem um talento inato para a culinária e faz-me tão feliz pelo estômago! – bem diziam os nossos antepassados. Gosta de expressar os sentimentos à moda antiga – sem selfies ou fotos no facebook para a cusquice alheia. O que interessa, o que realmente importa é a vida que vivemos – fora dos ecrãs que nos consomem os olhos e a mente. O amor à prova de balas e de distâncias, pois dizem que quando é amor é mesmo assim. E eu acredito.


P. S - Parabéns, meu amor. Muita saúde e paciência para me aturares com alegriaJ

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Texto en Español

Confieso que no me complace la idea de la exposición pública que, actualmente, las redes sociales han venido a alimentar. Me hace alguna confusión las múltiples demostraciones de amor super apasionadas, distribuyendo fotos, momento a momento, para que no se pierda nada de las escenas románticas y de las prendas intercambiadas - como si estuviéramos todos en una serie de televisión. En muchos casos, en el minuto siguiente, los apasionados están separados y, una vez más, vuelven al facebook para lavar la ropa sucia. La tecnología trajó cosas maravillosas, tantas, tantas, pero algo menos positivo también vino con ella. Creo que contribuyó para hacer más tonto al ser humano en sus relaciones sociales - en esa reflexión, me siento feliz por haber nacido en los años 80 y haber crecido sin internet, sin selfies y sin registros digitales descontrolados y incontrolables.

Hoy hago una excepción y abro un poquito el libro de las selfies domésticas. Parece que es el cumpleaños - no puedo decir cuántos años - una especie rara que habita esta casa. No tiene perfil de Facebook, Instagram, o Twitter - será que esta persona existe o no pasa de imaginación mía?! Su celular comprueba su falta de apego a la innovación, ya que sigue utilizando un modelo Nokia a prueba de caídas - los más resistentes! No es ningún hombre de las cavernas o un info excluido - término erudito usado para nombrar a los hombres y mujeres que no están en contacto con la tecnología - y se revela un usuario altamente perito de los medios tecnológicos - cuando los necesita. Es, sin duda, uno de los aspectos que más admiro: no acepta ser rehén de la máquina, pero logra hacer un buen uso de la misma, cuando la situación así lo exige. La vida le hace más sentido si es en el contexto de la naturaleza - hubo una época en que vivió en una ciudad cosmopolita y vino de allí con síntomas de resaca del campo y de los paisajes montañosos. Es en el medio del bosque que es más feliz y, si es posible, alrededor de sus más que todo – los hongos. Ellos me llegan a causar celos - soy una chica un poco celosa - porque consumen gran parte de su atención - sobre todo en el otoño, cuando abundan. Mi suerte -y creo que también la suya- es haber descubierto en los últimos años que me gusta más la naturaleza de lo que imaginaba y la inspiración que trae a mi día a día.

La genuinidad tal vez sea la característica que más aprecio en esta especie rara. No inventa, ni aparenta. Se presenta tal como es, simplemente. No siempre es fácil de manejar su manera de ser, ya que es demasiado testarudo. Es un león de signo y en la vida - un guerrero en busca del horizonte, que va revelando su generosidad. Inteligente y sensible, pero nada cursi- esa parte se queda para mí. ¡Tiene un talento innato para la culinaria y me hace tan feliz por el estómago! – como decían nuestros antepasados. Le gusta expresar los sentimientos a la moda antigua - sin selfies o fotos en el facebook para la escupida ajena. Lo que importa, lo que realmente importa es la vida que vivimos - fuera de las pantallas que nos consumen los ojos y la mente. El amor a prueba de balas y de distancias, pues dicen que cuando es amor es así. Y yo creo.

P. S - Feliz cumple mi amor. Mucha salud para seguirmos juntos con alegria!

Comentários

  1. Mucho amor! Qué lindo texto Celes! Saludos a Cardozo, muy feliz cumple! Un beso y que pasen súper festejo.

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  2. Lindo! Concordo, é mesmo assim, gosto desse tipo de pessoas e tenho a sorte de conhecer "mais ou menos bem" o Rui... Das lides dos cogumelos, confesso que que já sinto saudades de uns bons convívios à volta desses bichos...

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    1. Obrigada, Pedro, pelo teu comentário. Beijinhos e até breve!

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