Paralelismos solitários

Nada parecia tão triste, como aquele cenário de fim de tarde, em que os sonhos se evadiam por entre o pintalgar das pegadas de gaivotas. Desenhavam-se, ali, centenas de caminhos - muitos deles sem destino.

Nem sempre os sonhos se cruzam. Alguns permanecem paralelos e jamais se tocam. E, nesse dia, o encontro afigurava-se difícil para os três – que aparentavam uma multidão num areal imenso. Sabiam uns dos outros, mas não se assomavam pela janela da empatia. Custava-lhes viver, cada um com as suas dores.

Havia momentos em que eram sugados por uma força que lhes entupia o peito e os deixava roxos, por falta de ar. Talvez fosse efeito da solidão, uma velha e imponente senhora que assumia o comando, nos instantes mais inesperados, não se conhecendo quem lhe fosse completamente imune.

Desafio#01 (Adriana Oliveira)
Autoria da fotografia: Adriana Oliveira

Presas fáceis da solidão costumam ser as pessoas de idade avançada – mais vulneráveis à sua presença porque os mais novos, por vezes, não têm remorsos. Contudo, não é preciso chegar a velho ou estar no meio do deserto para reconhecer a dita. É sabido que pode atacar qualquer um, mesmo quando o corpo se encontra no meio de um magote entusiasta – aí cai-nos quem nem pedra em estômago vazio.

A solidão, muito mais do que um estado ou um momento, será, porventura, um dos sentimentos mais difíceis de explicar. De facto, ninguém consegue perceber o quão angustiante pode ser, até ao dia em que a experiência chega de malas e bagagem. E quando isso acontece – independente da idade, classe social ou estado civil - torna-se verdade a frase de Victor Hugo: - «Todo o inferno está contido na palavra solidão».

O sol pôs-se e os três voltaram para casa, a apalpar terreno entre as dunas. Talvez continuem a caminhar em paralelo, cada um no seu pequeno mundo. Ou, por milagre – a vida não deixa de sê-lo - quiçá as linhas do destino se intersectem, nem que seja por uma só vez.



Nota: Este texto foi elaborado no âmbito do Desafio Celestices (#01). A fotografia fornecida por Adriana Oliveira serviu de ponto de partida e inspiração para a redação do texto.   

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Texto en Español


Nada pareceria tan triste, como ese escenario de final de tarde, en que los sueños se escapaban por entre el dibujar de las huellas de las gaviotas. Se dibujaban decenas  de caminos - muchos de ellos sin destino.

Ni sempre los sueños se cruzan. Algunos permanecen paralelos y nunca se tocan. Y, en ese dia, el encuentro parecia dificil para los tres - que aparentaban una multitud de personas en esa playa inmensa. Sin embargo, no se asomaban por la ventana de la empatia. Les costaba vivir, cada uno con sus dolores.

Habia momentos en que eran atrapados por una fuerza que les cerraba el pecho y se quedaban violetas porque les faltaba el aire. Quizás seria el efecto de la soledad, una vieja y imponente señora que asume el comando, en los instantes más inesperados, y no se conoce quien se quede completamente inmune.

Vitimas de la soledad suelen ser personas  grandes - más vulnerables a su suerte porque muchos jovenes no tienen remordimnientos. Sin embargo, no es necesario llegar a viejo o estar en un desierto para reconocerla. Es sabido que puede atacar a cualquiera, incluso cuando el cuerpo se encuentra en medio de una multitud – ahi parece piedra en el estomago.

La soledad, mucho más que un estado o momento, será,  uno de los sentimientos más dificiles de explicar. De hecho, nadie logra entender lo que es, hasta el día en que la experiencia de sentirse solo llega con sus maletas. Y cuando eso sucede - independiente de la edad, la clase social o el estado civil – se hace verdad una frase de Victor Hugo: - «Todo el infierno está adentro de la palabra soledad».

El sol se pusó y los tres volvieron a casa, caminando por las dunas. Tal vez sigan caminos paralelos, cada uno en su pequeño mundo. O, por milagro - la vida no deja de ser un milagro – quien sabe si las líneas del destino se intersectan, ni que sea por una sola vez.



Nota: Este texto fue escrito en el contexto del Desafio Celestices (#01). La fotografia fornecida por Adriana Oliveira servío de punto de partida y inspiracion para la escritura. 

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