Retalhos de rascunhos antigos



Gosto de pensar que há coisas boas em todos os cenários. Até porque se fizermos esse exercício, encontramos, sempre, elementos positivos em qualquer trajeto. Vivemos num período de confinamento - pode ser uma oportunidade para olharmos para dentro das nossas casas e de nós. 

Neste tempo de quarentena, acabei por me reencontrar com fotografias antigas e textos que escrevi, há muitos anos atrás. Não me lembrava de que o tinha feito, mas confesso que fiquei orgulhosa do que encontrei. Claro que cada rascunho está associado a um contexto próprio, até porque somos, a cada momento, resultado de um tempo específico, sem deixarmos, desejavelmente, de sermos quem somos. 

A essência, está ali – se continuarmos a sermos honestos connosco. Fiquei contente por me reconhecer nos valores, na forma de me expressar por esta via, a escrita, que me aconchega, desde que me conheço por gente, a desbravar, de forma entusiasta, a junção das letras e das palavras. 

Partilho, aqui, excertos de 3 “achados” da minha autoria.


I) 
Chego à conclusão que o caminho tem muitas paragens, estações não previstas e apeadeiros que encalham o comboio que pretende seguir a sua marcha, sem demora. 

Será essa a essência da vida? Será uma eterna viagem com paragens, por vezes, necessárias e outras, dispensáveis, que só nos trazem um sabor amargo, mas sem o qual não conseguiríamos perceber o doce? Não sei. 

Continuo na carruagem da frente. Espreitando, de vez em quando, pela janela que encrava e absorvendo um pouco do vento que passa pelos meus cabelos, na esperança de encontrar através dele, a certeza do destino que devo seguir. Será que deverei parar nesta estação? Ou será, ainda mais à frente, o meu destino? Pior é a sensação de ter passado a estação e não ter saído… podia ter saltado? 

A ver vamos. Por enquanto, continuo... até onde o meu bilhete me levar. 

(2008) 
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II)
Dói muito crescer e perceber que o mundo é cruel. Que nós não passamos de simples sobreviventes de um naufrágio e que o barco de salvamento jamais chegará. 

Teremos, então, de nadar! Esbracejar com toda a força possível e imaginária…lutar contra aquelas ondas e correntes que insistem em carregar-nos para outras margens, para longe do nosso ser, do porto seguro que nos espera. 

Sobreviver até à morte que é a única certeza, certezinha que podemos dar por certo…e, por isso, saber que temos de viver com a maior intensidade de todas e salvar a esperança de que podemos continuar a resistir ao sofrimento, às sombras que nos perseguem e que nos afetam, mas não nos abatem, não…isso nunca! Sempre em frente, seguiremos enquanto o sol continue a iluminar o céu azul que nos vigia…observa todos os nossos passos, inclusivé os menos ortodoxos (mas às vezes os mais saborosos). 

Continuo a minha marcha… não me canso de caminhar! Mesmo quando os montes são altos e parecem intransponíveis. Nada como acreditar que por trás da montanha se encontra o vale mais belo que acolhe o sonho. 
(2006) 

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III) 
E o que adianta poder ser estrela e não iluminar? 
Poder ser onda e não rebentar… 
Ser flor e não perfumar… 

Crescer sem poder brincar… 
E brincar sem querer crescer… 
É como ser chuva e não conseguir molhar 
Os velhos transeuntes sem capota. 

Para quê sonhar sem ter realidade… 
E sentir sem poder tocar 
Pensar sem conseguir agir 
Querer sem querer amar. 

E para quê o caos 
Se no fim tudo permanece caótico 
E para quê as miniaturas de ambição 
Se parece incompleta a efémera essência da vida?! 
(…) 

(2004)

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Texto en Español
PEDAZOS DE ESCRITURA ANTIGUA

Me gusta pensar que hay cosas buenas en todos los escenarios. Especialmente porque si hacemos este ejercicio, siempre encontraremos elementos positivos en cualquier camino. Vivimos en una época de encierro. Un momento en que puede ser una oportunidad para mirar dentro de nuestros hogares y de nosotros mismos.
En este tiempo de cuarentena, terminé encontrándome con viejas fotografías y textos que escribí, hace muchos años. No recordaba lo que hice, pero confieso que estoy orgullosa de lo que encontré. Por supuesto, cada texto está asociado a su propio contexto porque somos, en cada momento, el resultado de ese mismo tiempo, mientras deseablemente dejamos de ser quienes somos. La esencia está ahí, si continuamos siendo honestos con nosotros mismos. Me alegró reconocerme en los valores, en la forma de expresarme de esta manera, la escritura, que me contiene, desde que me conosco como gente,  explorando la unión de las letras y las palabras.

En este texto, comparto extractos de 3 textos antiguos...

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I)
Llego a la conclusión de que el camino tiene muchas paradas, estaciones imprevistas y senderos que rodean el tren que tiene la intención de continuar su marcha, sin demora.
¿Es esta la esencia de la vida? ¿Será un viaje eterno con paradas, a veces necesarias y otras, prescindibles, que solo nos traen un sabor amargo, pero sin el cual no podríamos percibir el dulce? No sé.
Todavía estoy en el bagon delantero. Mirando, de vez en cuando, a través de la ventana que se bloquea y absorbe parte del viento que pasa por mi pelo, esperando encontrar a través de él, la certeza del destino que debo seguir. ¿Debería parar en esta estación? ¿O será, aún más adelante, mi destino? Peor es la sensación de haber pasado la parada y no salir ... ¿podrías haber saltado?
A ver Por ahora, continúo ... hasta donde llegue mi boleto.
(2008)
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II)
Duele mucho crecer y darse cuenta de que el mundo es cruel. Que simplemente somos sobrevivientes de un naufragio y que el bote de rescate nunca llegará.

¡Entonces tendremos que nadar! Con toda la fuerza posible y imaginaria ... luchar contra esas olas y corrientes que insisten en llevarnos a otras costas, lejos de nuestro ser, desde el puerto seguro que nos espera.

Sobrevivir hasta a la muerte, que es la única cosa segura hay... y, por lo tanto, saber que debemos vivir con la mayor intensidad de todas y salvar la esperanza de que podemos seguir resistiendo el sufrimiento, las sombras que nos persiguen y nos afectan, pero no nos matan, no ... ¡nunca! En línea recta, continuaremos mientras el sol siga iluminando el cielo azul que nos vigila ... observa todos nuestros pasos, incluidos los menos ortodoxos (pero a veces los más deliciosos).

Continúo mi marcha ... ¡No me canso de caminar! Incluso cuando las colinas son altas y parecen insuperables. Nada como creer que detrás de la montaña se encuentra el valle más hermoso que acoge el sueño.
(2006)

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III)
¿Y de qué sirve ser una estrella y no iluminar?
Ser capaz de ser una ola y no estallar ...
Ser una flor y no perfumar ...

Crecer sin poder jugar ...
Y juegar sin querer crecer ...
Es como estar lloviendo y no mojarse
Los viejos transeúntes sin techo.

¿Por qué soñar sin realidad ...
Y sentir sin poder tocar
Pensar sin poder actuar
Querer sin querer amar.

Y por que caos
Si al final todo sigue siendo caótico
¿Y por qué las miniaturas de la ambición?
¿La esencia efemera de la vida parece incompleta?
(...)
(2004)

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Que lindas relíquias!💚
    Profundo e bonito o teu coração ao movimento do lápis 😊

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