Continuas a espreitar…

 

Era teu costume afirmar que estarias sempre connosco, mesmo quando deixasses este plano terreno - não sei se era normal abordar o tema, mas a verdade é que falavas, despretenciosamente, da morte, no decorrer da tua vida. Recordo-me bem do tom assertivo que utilizavas para referir que havias de arranjar forma de meter o olho nas nossas vidas, fosse onde fosse que estivesses depois de falecida. Dito assim, tem piada, pois parece mais um desejo de coscuvilhice! – gosto das tuas memórias que me fazem rir.

Tal como se diz por aí, tinhas pêlo na venta e sabias bem lutar pelos teus direitos –admiro tanto a tua faceta revolucionária! Tendo em conta essa tua característica de personalidade, não me espantaria que tenhas dado a volta aos “procedimentos da vida após a morte” para concretizar a tua missão de nos acompanhar mais um bocadinho.

No início da tua partida, confesso que tinha dificuldade em perceber os sinais. Hoje sei que era o processo do luto a fazer o seu trabalho, o qual não consiste num mecanismo imediato ou sequencial; é composto por avanços e recuos e exige muito tempo – o tempo necessário para se curar as feridas e aprender a perspetivar os factos de outra forma.


Agora sinto-me abençoada por conseguir receber as tuas mensagens com maior frequência – os mais céticos dirão que endoideci de vez, mas eu não me importo. A inocência e a sensibilidade que me caracterizam permitem-me dizer este tipo de coisas em voz alta, sem pudor. Com o passar do tempo, parece que as minhas lentes se clarearam e percebo com mais nitidez alguns sinais do teu amor e presença na minha vida.

Ora, num dia de limpezas de gavetas e papéis antigos, (re) encontrei uma fotografia tua que julgava perdida há mais de 15 anos. Engraçado, eu pensava várias vezes nesta imagem com um sentimento de pena por não saber do seu paradeiro. Desta vez, completamente por acaso, abri um envelope e lá estava a melhor surpresa do meu dia: o teu retrato, brilhante e feliz – não temos muitas fotos tuas.

Só para mim reservo a mensagem que veicula através do teu sorriso, mágico. A emoção do reencontro é, simplesmente, indescritível. Obrigada, querida mãe, por continuares a espreitar pela janela da minha existência.

“(…) ficou ali sentada, de olhos fechados, e quase acreditou estar no País das Maravilhas, embora soubesse que bastaria abri-los e tudo se transformaria em insípida realidade…”
(In Alice no País das Maravilhas, Lewis Carrol)

Texto en Español
Echando un vistazo…

Era tu costumbre afirmar que siempre estarías con nosotros, aun cuando dejaras este plano terreno - no sé si era normal abordar el tema, pero la verdad es que hablabas, sin reparos, de la muerte, en el curso de tu vida. Recuerdo bien el tono asertivo que utilizabas para decir que debías encontrar la forma de echar un vistazo en nuestras vidas, fuera donde fuera que estuvieras después de muerta. Dicho así, es gracioso, pues parece más un chisme! - me gustan tus recuerdos que me hacen reír.

Como se dice por ahí, te calentavas y sabías bien luchar por tus derechos -admiro tanto tu faceta revolucionaria! Teniendo en cuenta tu personalidad, no me sorprendería que hayas cambiado los "procedimientos de la vida después de la muerte" para cumplir tu misión de acompañarnos un poco más.

Al principio de tu partida, confieso que me costaba entender las señales. Hoy sé que era el proceso del duelo, el cual no consiste en un mecanismo inmediato o secuencial; está compuesto por avances y retrocesos y requiere mucho tiempo - el tiempo necesario para sanar las heridas y aprender a vislumbrar los hechos de otra forma.

Pues bien,en un día de limpieza de cajones y papeles antiguos, (re) encontré una fotografía tuya que creía perdida hace más de 15 años. Es curioso, yo pensaba varias veces en esta imagen con un sentimiento de pena por no saber su paradero. Esta vez, completamente por casualidad, abrí un sobre y ahí estaba la mejor sorpresa de mi día: tu retrato, brillante y feliz - no tenemos muchas fotos tuyas, mucho menos contigo sonriendo.

Solo para mí reservo el mensaje que me llego a través de tu sonrisa, magica. La emoción del reencuentro es, simplemente, indescriptible. Gracias, querida mamá, por seguir mirando por la ventana de mi existencia.

"(...) se quedó allí sentada, con los ojos cerrados, y casi creyó estar en el País de las Maravillas, aunque sabía que bastaría con abrirlos y todo se transformaría en insípida realidad..."

(En Alicia en el País de las Maravillas, Lewis Carrol)


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