Vou buscar uma Coca-cola e já venho!

 

Mais um ano que termina e estamos, quase, quase, às portas do Natal. O tempo voa, sempre se ouviu dizer isso, mas tenho ideia de que agora os dias passam em modo de competição com a velocidade da luz - estou a ficar (mais) velha, com certeza.
Voltando ao tema do Natal, estes dias, ao pensar na relação entre o Pai Natal e a Coca-cola - a marca de refrigerantes que foi muito astuta ao utilizar a imagem de um santo nascido na Turquia, de seu nome Nicolau, para protagonizar um anúncio publicitário nos anos 20 do século passado – a minha memória desencantou mais dois episódios da infância.

Quando eu era pequena, o meu pai trabalhava na Coca-cola, como vendedor. Recordo o orgulho com o qual eu dizia a profissão do meu pai aos meus amiguinhos, como se ele fosse um astronauta prestes a pisar a Lua. Sei que as crianças de hoje não conseguem perceber isto; nos anos 80, a magia de beber um refrigerante era, para muitos, um verdadeiro acontecimento.

Houve uma ocasião em que o meu pai fez um autêntico brilharete na minha escola, pelo facto de ter fornecido grades e grades de Coca-cola para a festa de final do ano – nem se punha em causa as carradas de açúcar que os refringentes possuem e isso também não importa nada para este relato. Naquele dia, o Senhor Hugo, com o seu bigode charmoso e  sotaque particular, foi elevado a uma espécie de santo (quase, o Nicolau!) na comunidade escolar e eu a rainha da festa, obviamente. Nunca fui uma miúda arrogante, nem vaidosa, mas gostei do sentimento porque tive, de imediato, a perceção de que a atitude do meu pai tinha significado uma experiência única para os meus colegas, crianças de um meio rural com poucas oportunidades de aceder a algumas “magias” do mundo globalizado.

Outro episódio engraçado relacionado com a Coca-cola consiste na situação em que o meu pai foi, em viagem de trabalho, à fábrica de produção deste refrigerante em Portugal, no Montijo. Como sempre fui muito curiosa, quis logo saber tudo sobre o que meu pai tinha visto e perguntei-lhe se lhe tinham contado a fórmula da Coca-cola – não há nada como a inocência. Talvez tenha sido aí que tive de aprender, pela primeira vez, a lidar com a ansiedade, pois o meu pai mostrou-se exímio em alimentar as minhas histórias e fantasias. Acho que ele nunca soube o tal segredo, mas mantinha-se firme na sua afirmação sem nada me revelar, aguçando-me o apetite para eu ter sede pela magia – como acontece até hoje, nesta nossa relação de cumplicidade inigualável.

Precisamos (todos) de magia, não?! 

P.S – Acho que vou buscar uma Coca-cola e já venho!

“Preciso de magia. Não consigo viver em preto e branco.”




Texto en Español

¡Voy a buscar una Coca-Cola y vuelvo enseguida!



Se acaba un año más y estamos casi, casi, a las puertas de la Navidad. El tiempo vuela, siempre has oído decir eso, pero tengo una idea de que ahora los días pasan como en competencia con la velocidad de la luz: me estoy quedando vieja!

Volviendo al tema de la Navidad, estos días, al pensar en la relación entre Papá Noel y Coca-Cola -la marca de refrescos que tuvo la gran astucia de utilizar la imagen de un santo nacido en Turquía, llamado Nicolau, para protagonizar una anuncio publicitário en los años 20 del siglo passado - mi memoria encontró más dos episodios de mi infancia.

Cuando yo era chica, mi papá trabajaba para la Coca-Cola como vendedor. Recuerdo el orgullo con que yo les contaba a mis amigos, la profesión de mi padre, como si fuera un astronauta a punto de pisar la Luna. Sé que los niños de hoy no pueden entender esto; en los años 80, la ilusion de beber un refresco era, para muchos, un auténtico acontecimiento.

Hubo un tiempo en que mi papá causó un gran revuelo en mi escuela, por haber regalado cajas y cajas de Coca-Cola para la fiesta de fin de año. Ese día, el señor Hugo, con su encantador bigote y su particular acento, fue elevado a una especie de santo (¡casi Nicolau!) en la comunidad escolar y yo era la reina de la fiesta, obviamente. Nunca fui una niña arrogante, pero me gustó la sensación porque inmediatamente tuve la conciencia de que la actitud de mi padre había significado una experiencia única para mis compañeros, niños de un entorno rural con pocas oportunidades de acceder a algo de “ilusion” del mundo moderno.

Otro episodio divertido relacionado con la Coca-Cola consiste en la situación en la que mi papá acudió, en viaje de trabajo, a la fábrica de producción de este refresco en Portugal, en Montijo. Como siempre he sido muy curiosa, inmediatamente quise saber todo lo que había visto mi padre y le pregunté si le habían dicho la fórmula de la Coca-Cola: no hay nada como la inocencia. Quizás fue allí donde tuve que aprender, por primera vez, a lidiar con la ansiedad, ya que mi papa demostró ser excelente para alimentar mis historias y fantasías. No creo que él supiera nunca ese secreto, pero se mantuvo firme en su declaración sin desvelarme nada, avivándome el apetito por mi sed de magia y creatividad, como sucede hasta el día de hoy, en nuestra relación de complicidad sin igual.


Todos necessitamos de ilusion y de sueños.

PD: ¡Voy a tomar una Coca-Cola y ya vuelvo!


“Necesito magia. No puedo vivir en blanco y negro".

(Irvin D. Yalom)

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