A liberdade de dizer que não
É muito difícil dizer que não, no mundo, tal como o conhecemos hoje. Na verdade, creio que nunca tenha sido possível dizê-lo com toda a propriedade, na História da Humanidade, já que a evolução das sociedades civilizadas foi passando pela castração dos instintos mais básicos e do incremento do processo de racionalização.
Importa referir que sempre existiram pessoas que conseguiram dizer que não com mais facilidade, fosse por se tratar de algo intrínseco à sua maneira de ser, ou porque foram aprendendo, através da experiência, a fazê-lo com maior segurança. Infelizmente, algumas nunca chegam a desenvolver esta competência, tornando-se escravas das vontades alheias, como li algures: “quando dizes sim aos outros, querendo dizer não, estás a dizer não a ti mesmo!”.
Acredito que o desenvolvimento emocional se edifica através da consciência e das ferramentas que criamos para exercer o nosso poder, quer pelo “sim”, quer pelo “não”. Saber receber, aceitar e ir atrás do que queremos; ou recusar, negar e desapegar o que não condiz com o que sentimos, a cada momento - parece algo demasiado básico, mas, pelo que vou verificando, nem sempre se materializa no quotidiano.
Dando asas à criatividade, imagino um hipotético sistema escolar que contemplasse uma disciplina denominada “Não”, em que os aprendentes seriam capacitados para manifestar, assertivamente, a sua vontade. Aprender a dizer não requer um desenho pedagógico adequado, uma metodologia que interseta diferentes técnicas e recursos e, sobretudo, tempo. Um tempo que não se mede pelos relógios, mas que cabe dentro de cada um de nós, pois corresponde à capacidade de nos conhecermos e percebermos as pecinhas que compõem o nosso puzzle interno. Só quando eu me conheço, consigo saber quem sou e, em consequência, fazer escolhas. Nessa altura, perde o sentido fazer fretes – ou pelo menos tantos! – e sacrifícios em nome das aparências ou do que está socialmente instituído. Sou mais fiel a mim mesmo, em respeito com o todo.
E é aí que aparece a liberdade de dizer que não, emergindo de um lugar leve, sem amarguras, tornando-se mais um vocábulo que pode ser usado, sem restrições, nas grandes coisas ou nas mais insignificantes, em função do que vai na alma.
“O mais importante que aprendi a fazer depois dos quarenta
anos foi a dizer não quando é não.”
(Gabriel García Márquez)
Texto en español
Es muy difícil decir que no, en el mundo tal como lo conocemos hoy. En verdad, creo que nunca ha sido posible decirlo con toda propiedad, en la Historia de la Humanidad, ya que la evolución de las sociedades civilizadas fue pasando por la castración de los instintos más básicos y el incremento del proceso de racionalización.
Cabe señalar que siempre ha habido personas que han podido decir no con más facilidad, ya sea porque se trata de algo intrínseco a su modo de ser, o porque fueron aprendiendo, a través de la experiencia, a hacerlo con mayor seguridad. Desafortunadamente, algunas nunca llegan a desarrollar esta competencia, convirtiéndose en esclavas de las voluntades ajenas, como leí en alguna parte: "cuando dices sí a los demás, queriendo decir no, estás diciendo no a ti mismo!".
Creo que el desarrollo emocional se construye a través de la conciencia y las herramientas que creamos para ejercer nuestro poder, ya sea por el "sí" o por el "no". Saber recibir, aceptar e ir tras lo que queremos; o rechazar, negar y desapegarse de lo que no concuerda con lo que sentimos, a cada momento - parece algo demasiado básico, pero, por lo que voy verificando, no siempre se materializa en el cotidiano.
Dando alas a la creatividad, imagino un hipotético sistema escolar que contemplara una disciplina denominada "No", en la que los aprendices estarían capacitados para manifestar, de manera asertiva, su voluntad. Aprender a decir no requiere un diseño pedagógico adecuado, una metodología que interfiera diferentes técnicas y recursos y, sobre todo, tiempo. Un tiempo que no se mide por los relojes, sino que cabe dentro de cada uno de nosotros, pues corresponde a la capacidad de conocernos y percibir las pequeñas piezas que componen nuestro rompecabezas interno. Solo cuando me conozco a mí mismo, puedo saber quién soy y, en consecuencia, tomar decisiones. En ese momento, deja de tener sentido hacer fletes - o al menos tantos! - y sacrificios en nombre de las apariencias o de lo que está socialmente instituido. Soy más fiel a mí mismo, en respeto al todo.
Y ahí es donde aparece la libertad de decir que no, emergiendo de un
lugar liviano, sin amarguras, convirtiéndose en más una palabra que puede ser
usada, sin restricciones, en las grandes o pequenas cosas, en función de lo que
va en el alma.
"Lo más importante que aprendí a hacer después de los cuarenta fue
decir no cuando es no."
(Gabriel García Márquez)
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