Domingar


Nunca fui muito fã de domingos – bem sei que é um dia como outro qualquer, faz parte da organização do tempo definida para vivermos em sociedade. No entanto, no mundo ocidental, este dia da semana tem uma carga cultural associada ao momento de pausa de trabalho, às festividades e à família.

Por múltiplas razões, ao longo da minha vida, os significados de domingo não estiveram próximos das representações gerais. Talvez porque na infância, a minha mãe também trabalhava aos domingos e, como tal, eram poucas as ocasiões em que os programas familiares se concentravam nesta jornada. Ou, porque a maioria dos nossos familiares viviam noutro continente e, por isso, as reuniões alargadas raramente aconteciam.

Sempre considerei o domingo um dia triste. Não tem a ver só comigo, desde cedo me causou ansiedade observar as filas de carros domingueiros que atravancam o trânsito; o ritual de velhotas vestidas a rigor para irem à missa bisbilhotar a vida alheia e obrigarem os maridos a dar a voltinha dos tristes depois do almoço; os centros comerciais a abarrotarem de gente também mexe com as minhas entranhas porque dá-me um misto de irritação e angústia. Vivemos num mundo tão deprimente em que os momentos de reunião das famílias são passados em ambientes fechados – cheios de vírus – em que só importa comer e comprar, comprar, comprar?!


Focando as coisas pela positiva, é engraçado perspetivar o mesmo objeto de outro prisma. Com o decorrer do tempo, aprendi, lentamente, a apreciar os domingos. Não só aqueles em que tenho oportunidade de rever a família e amigos. Não só os que vou conhecer lugares diferentes. Aprendi a gostar, em particular, dos dias em que estou no meu lar, tentando ser apenas quem sou. Nos quais meto as mãos na massa – literalmente – e faço um bolo de iogurte para o nosso lanche.  Ou, aqueles em que posso dormir uma sesta mais longa, aconchegada pelas mantas. Sem mais nada, sem mais porquê.

Parar e saborear – este é o meu significado de domingo. Olhar, em redor, com os olhos bem abertos para dar-me conta da beleza das interações – tudo nos parece despercebido quando estamos ocupados.  Ganhar fôlego para mais uma semana - há quem deteste as segundas feiras, mas eu gosto (sou do contra!). Apaixona-me a sensação de recomeço, de ser de novo a minha vez de lançar os dados. De ter um caderno novo para rabiscar, o que eu quiser…

Boa semana!

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Texto en Español



Nunca fui muy fan de los domingos - sé que es un día como cualquier otro, forma parte de la organización del tiempo definida para vivir en sociedad. Sin embargo, en el mundo occidental este día semanal tiene una carga cultural asociada al momento de pausa de trabajo, a las festividades y a la familia. 


Por múltiples razones, a lo largo de mi vida, los significados del domingo no estaban cerca de las representaciones generales. Tal vez porque en la infancia, mi mamá también trabajaba los domingos y, como tal, eran pocas las ocasiones en que los programas familiares se concentraban en este dia. O, porque la mayoría de nuestros familiares vivían en otro continente y, por eso, las reuniones amplias rara vez ocurrían. 


Siempre he considerado el domingo un día triste. No tiene que ver sólo conmigo, desde temprano me causó ansiedad observar las filas de coches domingueros que traban el tránsito; el ritual de viejitas vestidas a rigor para ir a la misa chisporrotear la vida ajena y obligar a los maridos a dar la vuelta de los tristes después del almuerzo; los centros comerciales llenos de gente también me fastidia porque me da una mezcla de irritación y angustia. Vivimos en un mundo tan deprimente en que los días de pausa de las familias son pasados ​​en ambientes cerrados - llenos de virus - en que sólo importa comer y comprar, comprar, comprar? 


Mirando las cosas por la positiva, es divertido perspetivar el mismo objeto de otro prisma. Los años pasan y aprendí, lentamente, a apreciar los domingos. No sólo aquellos en los que tengo la oportunidad de reunirme con familiares / amigos. No sólo los que voy a conocer lugares diferentes. Aprendí a querer, en particular,  los días en que estoy en mi hogar, tratando de ser sólo quien soy. En los que meto las manos en la masa - literalmente - y hago una simples torta para nuestra merienda. O, aquellos en los que puedo dormir una siesta más larga, tapadita por las mantas. Sin más nada, sin más por qué. 

Parar y saborear - este es mi significado de domingo. Mirar, alrededor, con los ojos bien abiertos para darme cuenta de la belleza de las interacciones - pasa todo tan desapercibido cuando estamos ocupados. Ganar aliento para una semana más - hay quienes deteste los lunes, pero a mi me gustan (soy del contra!). Me apasiona la sensación del comienzo, de ser de nuevo mi turno de lanzar los datos. De tener un cuaderno nuevo para escribir, lo que quiera ...


Buena semana!

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