Nenhum homem é uma ilha isolada



Ela entrou no comboio em hora de ponta - não era seu hábito fazê-lo, já que sabia que é a altura do dia em que há uma enorme afluência. Porém, desta vez pensou que não haveria problema e queria chegar mais cedo a casa. Estava demasiada gente nas plataformas, mas conseguiu entrar na carruagem, tendo ficado de pé, junto a um dos pilares de apoio. As pessoas entravam de forma avassaladora, as portas fecharam-se e o comboio arrancou, sem demoras. Na paragem seguinte, ninguém saiu e continuaram a entrar mais e mais pessoas, em jeito alucinado, não sobrando qualquer espaço entre os corpos que se aglutinavam feitos salsichas em lata, sem qualquer respeito pela privacidade - quem estiver no meio daquela confusão só sai na estação final, antes é impossível. Três paragens depois, ela já se sentia em stress – e falo de alguém habituado aos desígnios de uma grande cidade – pois estava esmagada entre as pessoas e o pilar de apoio que lhe exercia pressão no peito. Apesar deste cenário bélico, continuavam a entrar pessoas (ou animais?!) em modo avalanche.

Pareceram-lhe uma eternidade os instantes em que esteve a ponto de perder os sentidos e o medo de sufocar era real. Enquanto tinha forças, pediu ajuda, gritou bem alto dizendo que não se sentia bem. No entanto, não houve qualquer reação. Não surgiu, sequer, alguém que lhe dirigisse um olhar empático ou uma palavra de apoio, mesmo que, na pratica, não fosse, de todo, possível fazer nada para alterar a situação. Restaria, “apenas”, ativar o instinto de sobrevivência e aguentar mais 3 estações até que o comboio pudesse chegar ao destino, onde aquela manada de gente pudesse sair como se não houvesse amanhã.


Para essas pessoas, talvez não haja, mesmo, um amanhã. Qual o sentido do amanhã quando não se consegue olhar para o minuto presente e perceber que alguém ao nosso lado está em sofrimento? Ficamos completamente obcecados com as nossas vidinhas sem sentido: temos de ir a correr para casa, não temos tempo, a vida é uma correria, muito difícil e complicada, etc. O mais engraçado, sem qualquer piada, é que as tais pessoas cheias de pressa em viver, na prática, fazem tudo menos aproveitar o melhor da vida. Estão mais preocupados com o trabalho, o dinheiro e as redes sociais. Não têm tempo para os abraços, os olhares, as gargalhadas.


O episódio que aqui relato aconteceu com uma pessoa próxima que vive numa grande metrópole. Contudo, acredito que poderia acontecer a qualquer um de nós – aliás, se pensarmos bem, este fenómeno de não olharmos o outro sucede todos os dias, em todos os pontos do planeta. Nos dias que correm, mais parece que cada um vive na sua quinta, no seu quadradinho milimetricamente delineado. Cada vez se torna menos comum, assistirmos a alguém que sai do seu território para ajudar o outro. Ou, simplesmente, olhá-lo nos olhos e fazê-lo sentir que não está sozinho. 

“Nenhum homem é uma ilha isolada; 
cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. (…)
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; 
eles dobram por ti.”
(John Donne)



____________________________________________________________________________________

Texto en Español







Ningún hombre es una isla aislada



Subió al tren a la hora pico; no era su costumbre hacerlo, ya que sabía que era la hora del día cuando había más gente. Pero esta vez pensó que no habría problema y quería llegar temprano a casa. Había demasiadas personas en las plataformas, pero logró subir al carril y se paró junto a uno de los pilares de soporte. La gente entró al tren de una manera abrumadora, las puertas cerraron y empezo el viaje sin demora. En la siguiente parada, nadie se fue, y muchas más personas siguieron entrando, de una manera loca, sin dejar espacio entre los cuerpos que se agruparon como salchichas en lata, sin ningún respeto por la privacidad; quien está en medio de ese desastre solo sale de la estación final, antes es imposible. Tres paradas después, ella ya estaba muy estresada- y hablo de alguien acostumbrado a una gran ciudad - ya que fue aplastada entre la gente y el pilar de soporte que presionó su pecho. A pesar de este escenario bélico, las personas (¿o los animales?) seguían entrando en modo avalancha.



Le pareció una eternidad los instantes de cuando estaba a punto de perder los sentidos y el miedo a la asfixia era real. Mientras tenía fuerzas, pidió ayuda, gritó en voz alta que no se sentía bien. Sin embargo, no hubo reacción. Ni siquiera había nadie que lo mirara con empatía o una palabra de apoyo, aunque en la práctica no se podía hacer nada para cambiar la situación. Todo lo que pudo hacer en ese momento fue activar el instinto de supervivencia y esperar 3 estaciones más hasta que el tren llegara a su destino, donde ese grupo de personas podría irse como si no hubiera un mañana.



Para estas personas, puede que ni siquiera haya un mañana. Como hay un mañana cuando no puedes mirar el minuto presente y darte cuenta de que alguien a nuestro lado está sufriendo? Estamos completamente obsesionados con nuestras vidas sin sentido: tenemos que correr a casa, no tenemos tiempo, la vida es apresurada, muy difícil y complicada, etc. Lo más divertido, sin ninguna broma, es que esas personas que tienen prisa por vivir en la práctica hacen todo menos disfrutar lo mejor de la vida. Están más preocupados por el trabajo, el dinero y las redes sociales. No tienen tiempo para abrazos, miradas, risas.

El episodio que cuento aquí le sucedió a una persona cercana que vive en una gran metrópoli. Sin embargo, creo que podría pasarnos a cualquiera de nosotros; de hecho, si lo pensamos bien, este fenómeno de no mirarnos ocurre todos los días, en todo el mundo. Hoy en día, parece que cada uno vive en su granja, en su pequeña plaza delineada. Cada vez se vuelve menos común, ver a alguien salir de su territorio para ayudar al otro. O simplemente mirarlo a los ojos y hacerle sentir que no está solo.


“Ningún hombre es una isla aislada;
cada hombre es una partícula del continente, una parte de la tierra. (...)
Y así no preguntes por quién suena las campanas;
se doblan por ti ".
(John Donne)


Comentários

Mensagens populares