Adeus, Casa da Eira


Fomos presenteados, em pleno dezembro, com framboesas maduras, colhidas nos galhos que subsistiram do verão. Saíram fora do tempo?! Eu prefiro pensar que é no tempo certo de nos despedirmos, para homenagear a fartura deste fruto vermelho antioxidante. Também o Bobby nos veio visitar estes dias – parece que ouviu as minhas preces telepáticas a desejar mais um encontro – este amigo de quatro patas, do vizinho, tornou-se um fiel companheiro na altura mais dura do confinamento, pois era o único que não fez quarentena e corria livre pelo terreno.

Vamos dizer adeus a este lugar, mas tenho a certeza que ele irá permanecer connosco para sempre. Foi aqui que me senti verdadeiramente em casa, talvez como nunca me havia sentido antes. Descobri tantas coisas acerca da vida e de mim própria, que todas as palavras que eu poderia proferir seriam insuficientes perante o sentimento de gratidão que me inunda.

E é exatamente assim que faço questão de me despedir deste sítio idílico – em particular, o seu espaço exterior, único e aconchegante. Agradeço a cada centímetro deste chão que me acolheu de modo pleno e me transformou, definitivamente. Tinha vivido, a maior parte do tempo, em apartamentos e em zona urbana. Nunca imaginei, antes de viver em Almalaguês, que o meu verdadeiro chamamento estaria relacionado com a natureza, a calmaria e o rural. Apaixonei-me por um novo estilo de vida - distante da azáfama ensurdecedora e egocêntrica.

Volvi-me mais companheira de mim mesma neste contexto, desfrutando da minha companhia como nunca o havia feito antes, nomeadamente, através das caminhadas diárias que se tornaram um verdadeiro vício e uma autêntica terapia - os caminhos e atalhos, aqui à volta, fartaram-se de escutar os meus desabafos e reflexões! A natureza é o melhor mestre e eu comecei a acompanhar cada transição com as minhas lentes de curiosidade.

Não vou, facilmente, esquecer os momentos de meditação no jardim, recebendo a luz solar, junto ao pinheiro majestoso que parecia abraçar-nos fortemente. Ali descobri que os pássaros falam diversos idiomas - uma autêntica Torre de Babel que me tranquiliza. Confesso que, às vezes, os ditos também me irritavam porque alguns gostavam de “fazer de WC” as nossas roupas lavadas, acabadinhas de estender…

Vou sentir saudades da alfazema gigante que fomos buscar ao Rosmaninhal e que cada vez que a podava, mais florescia - aproveitava para fazer os saquinhos de lavanda para presentes aromáticos. Falando de cheiros, lembro-me dos orégãos que proliferam aqui, tipo epidemia. As laranjas e os limões, os figos, ameixas e as ervas que fomos plantando: o caril, o tomilho, a hortelã, o cebolinho, a salsa, a segurelha, a salva… Para os nossos chás: o limonete que cresceu exponencialmente e a cidreira que rebentava mais forte, a cada corte. Ainda apareciam, com frequência, alguns espargos, silvestres, tenros e deliciosos.

Também tivemos oportunidade de apanhar azeitona e usar o nosso próprio azeite – delícia! Para mim, foi uma das melhores experiências que já tive. Recordo-me da sensação de não ter nem um só um bocadinho do corpo que não me doesse, de tão dura que é a jornada à volta das oliveiras. Fez-me olhar para o trabalho no campo de uma outra perspetiva, tornando-me mais rica e, ao mesmo tempo, mais humilde.

Embora esta terra não fosse das mais fáceis – acho que era bem custosa de lavrar - conseguimos saborear muitas espécies: tomates, pimentos, morangos, alfaces, rúcula, cournichons, rabanetes... Obviamente que esta “magia” acontecia, fruto do esforço do meu companheiro de vida, a quem devo a oportunidade de me dar a conhecer uma outra forma de viver, mais alinhada com a nossa essência. A ti, Rui, agradeço todas as memórias que pude construir neste lugar, as aprendizagens de mexer na terra e de apreciar a simplicidade, a cada instante. É certo que fui uma aluna um pouco difícil - até porque as "manualidades" não são nada a minha praia - mas a tua genuína paixão pela natureza encheu-me, verdadeiramente, o coração e inspira-me a mais e mais…

Casa é o lugar onde vive o coração e aqui viveu o meu, o nosso, incontestavelmente. Agora é hora de mudar, o caminho é em frente, como se diz: “quem muda, Deus ajuda!”. Fechar esta porta e abrir outra (s) que nos permita recomeçar. Com fé, com amor e com gratidão.


“Onde amamos, é o nosso lar: lar que os nossos pés podem deixar, mas não os nossos corações.”
(Oliver Wendell Holmes)



Texto en Español

Adiós, “Casa da Eira”

A mediados de diciembre, nos obsequiaron frambuesas maduras, recogidas de las ramas que sobrevivieron al verano. ¿Fuera de tiempo? Prefiero pensar que es justo en el momento de decir adiós, de honrar la generosidad de esta fruta roja antioxidante. Bobby (perrito) también vino a visitarnos estos días - parece haber escuchado mis oraciones telepáticas deseando otro encuentro - este amigo patudo del vecino, se convirtió en un fiel compañero en los momentos más duros de encierro, ya que fue el único que no lo hizo, corriendo por el jardin.

Decimos adiós a este lugar, pero estoy segura de que se quedará con nosotros para siempre. Fue aquí donde me sentí realmente en casa, tal vez como nunca antes me había sentido. Descubrí tanto de la vida y de mí misma que todas las palabras que pudiera pronunciar serían insuficientes ante el sentimiento de gratitud que me inunda.

Y así con gratitud es como me quiero despedir de este lugar idílico, en particular, su espacio exterior único y acogedor. Estoy agradecida por cada centímetro de este piso que me dio la bienvenida y definitivamente me transformó. Había vivido, la mayor parte del tiempo, en apartamentos y en zonas urbanas. Nunca imaginé, antes de vivir en Almalaguês, que mi verdadera vocación estaría relacionada con la naturaleza, la tranquilidad y las zonas rurales. Me enamoré de una nueva forma de vida, lejos del caos urbano ensordecedor y egocéntrico.

Me volvi más compañera de mí misma en este contexto, disfrutando de mi compañía como nunca antes lo había hecho, es decir, a través de las caminatas diarias que se han convertido en una verdadera adicción y una auténtica terapia; los caminos y atajos de la zona escucharon mis oraciones, arrebatos y reflexiones! La naturaleza es la mejor maestra y comencé a seguir cada transición con mi lente de curiosidad.

No olvidaré fácilmente los momentos de meditación en el jardín, tomando sol, junto al majestuoso pino que parecía abrazarnos con su fuerza. Fue aquí donde descubrí que los pájaros hablan diferentes idiomas, una auténtica Torre de Babel que me tranquiliza. Confieso que, por momentos, los dichos también me irritaban porque a algunos les gustaba “ir al baño” en nuestra ropa lavada, recién colgada…

Extrañaré la lavanda gigante que recogimos de Rosmaninhal y que crecía cada vez que la podaba; era impresionante verla crecer y solía hacer bolsas de lavanda para regalos aromáticos. Hablando de olores, recuerdo el orégano que prolifera aquí, como una epidemia. Naranjas y limones, higos, ciruelas y hierbas que hemos ido plantando: curry, tomillo, menta, cebollino, perejil, ajedrea, salvia… Para nuestros tés: limonete que crece exponencialmente y cidreira que revienta más fuerte con cada corte. Había a menudo algunos espárragos, silvestres, tiernos y deliciosos.

También tuvimos la oportunidad de recoger aceitunas y hacer nuestro propio aceite, ¡delicioso! Para mí fue una de las mejores experiencias que he tenido. Recuerdo la sensación de no tener ni una sola parte de mi cuerpo que no me dolia, trabajar en los arboles de oliva es tan duro! Me hizo ver el trabajo en el campo desde otra perspectiva, haciéndome más rica y, al mismo tiempo, más humilde.

Aunque esta tierra no fuera la más fácil, creo que era bastante dura cultivar, logramos degustar muchas especies: tomates, aji, fresas, lechugas, rúcula, cournichons, rábanos. Obviamente, esta “magia” sucedió como resultado del esfuerzo de mi compañero de vida, a quien le debo la oportunidad de darme a conocer a otra forma de vivir, con más conexion con nuestra esencia. A ti, Rui, estoy agradecida por todos los recuerdos que pude construir en este lugar, por aprender a tocar en la tierra y apreciar la sencillez, en cada momento. Es cierto que yo era una alumna un poco difícil, sobre todo porque las manualidades no es lo mío, pero tu genuina pasión por la naturaleza realmente llenó mi corazón y me inspiró cada vez más ...

El hogar es el lugar donde vive el corazón y aquí vivió el mío, el nuestro, sin lugar a dudas. Ahora es el momento de cambiar, el camino es adelante, como dicen: “a quien cambia, Dios ayuda”. Se cierra esta puerta y se abre otra (s) que nos permitirá empezar de nuevo. Con fe, con amor y con gratitud.


“Donde amamos es nuestro hogar: un hogar que nuestros pies pueden dejar, pero no nuestro corazón”.

(Oliver Wendell Holmes)

Comentários

Mensagens populares