Misael Barrios

Tenho um tio chamado Misael Barrios, um dos 12 irmãos da minha mãe, que viveu e morreu na Argentina, há muitos anos – quase 30. Não tive quase contacto com ele na minha infância, pelo que, o facto de me ter aparecido como imagem, durante um momento de meditação recente, deixou-me bastante perplexa. Este insight levou-me a pensar quem terá sido essa pessoa, à qual estou ancestralmente conectada.

A vida do meu Tio Misael chegou até mim através da boca da minha mãe e das histórias contadas, posteriormente, por outros elementos da família. Na verdade, tudo o que me foi dado a conhecer acaba por ser residual na minha estrutura mnemónica, não conseguindo, a partir daí, criar uma descrição concreta do ele que fez, do que viveu ou do seu legado.

O que ficou tatuado na minha memória, a que regresso, em modo de associação, sempre que o nome Misael vem à baila, consiste na reação da minha mãe à notícia da sua morte. Tenho lembrança de ter sido o único dia em que ela faltou ao trabalho e se fechou em casa, às escuras, num silêncio ensurdecedor. Além da dor da perda de um irmão, havia a angústia de não poder ir ao funeral para prestar a última homenagem, uma vez que, nessa época, já vivíamos em Portugal e as viagens estavam completamente fora do nosso alcance.

Para mim, aquele episódio representou o primeiro confronto com a Morte – mal eu sabia que cerca de um ano mais tarde teria de enfrentá-la dentro de casa. Tratou-se da consciência da perda através dos olhos da minha mãe e do meu sentimento de compaixão para tentar diminuir o seu sofrimento. Havia algo de obscuro e de, ao mesmo tempo, fascinante no processo de luto, por trazer à flor da pele, as emoções mais primárias do ser humano. Obviamente, nessa altura, eu desconhecia essa informação, mas a minha natureza sensível soube acolher a situação como um salto de crescimento.

Agora não sei qual será o sentido do surgimento da imagem do Tio Misael na minha cabeça - também não estou preocupada em analisar a lógica desta mensagem. Talvez sirva, como outros sinais da nossa intuição, para nos fazer reconhecer o que somos, na humildade de aceitar e agradecer de onde viemos.

“Quando nascemos, não somos um livro em branco. Antes de nós, viveram milhares de antepassados, com as suas histórias e vivências, alegrias e dores.” 

(Sara Larcher)

Texto en Español

Misael Barrios

Tengo un tío llamado Misael Barrios, uno de los 12 hermanos de mi mamá, que vivió y murió en Argentina hace muchos años - casi 30. No tuve casi contacto con él en mi infancia, por lo que el hecho de que me apareciera como imagen durante un momento de meditación reciente, me dejó bastante perpleja. Esta comprensión me llevó a pensar quién podría haber sido esa persona, con la que estoy ancestralmente conectada.

La vida de mi tío Misael me llegó a través de la boca de mi mamá y las historias contadas posteriormente por otros miembros de la familia. De hecho, todo lo que me ha sido dado a conocer resulta ser residual en mi estructura de memoria, y no puedo a partir de ahí, crear una descripción concreta de lo que hizo, de lo que vivió o de su legado.

Lo que quedó tatuado en mi memoria, a la que regreso siempre que escucho el nombre Misael, consiste en la reacción de mi mamá a la noticia de su muerte. Tengo el recuerdo de haber sido el único día en que ella faltó al trabajo y se encerró en casa, a oscuras, en un silencio ensordecedor. Además del dolor de la pérdida de un hermano, había la angustia de no poder ir al velorio para rendir el último homenaje, ya que, en esa época, ya vivíamos en Portugal y los viajes estaban completamente fuera de nuestro alcance.

Para mí, ese episodio representó el primer enfrentamiento con la Muerte - ni me imaginaria que que un año después tendría que enfrentarla dentro de casa. Se trataba de la conciencia de la pérdida a través de los ojos de mi mamá y de mi sentimiento de compasión para tratar de disminuir su sufrimiento. Había algo oscuro y, al mismo tiempo, fascinante en el proceso de duelo, por traer a la superficie, las emociones más primarias del ser humano. Obviamente, en ese momento, yo desconocía esa información, pero mi naturaleza sensible supo acoger la situación como un salto de crecimiento.

Ahora no sé cuál será el sentido de la aparición de la imagen del tío Misael en mi cabeza - tampoco estoy preocupada en analizar la lógica de este mensaje. Tal vez sirva, como otros signos de nuestra intuición, para hacernos reconocer lo que somos, en la humildad de aceptar y agradecer de donde venimos.

"Cuando nacemos, no somos un libro en blanco. Antes de nosotros, vivieron miles de antepasados, con sus historias y experiencias, alegrías y dolores."

(Sara Larcher)

 

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